quinta-feira, 26 de junho de 2014

O Herói [Isidore Ducasse - Adolfo Luxúria Canibal / Miguel Pedro - António Rafael]

Direi em poucas palavras como Maldoror foi bom.
Direi em poucas palavras como Maldoror foi bom nos seus primeiros anos.
Direi em poucas palavras como Maldoror foi bom nos seus primeiros anos em que viveu feliz.
Está dito!
Apercebeu-se depois que tinha nascido mau. Fatalidade extraordinária! Escondeu o seu carácter tanto quanto pôde, durante um grande número de anos. Mas por fim, por causa desta concentração que não lhe era natural, todos os dias o sangue lhe subia à cabeça. Até que, não podendo mais suportar tal vida, se atirou resolutamente para a carreira do mal. Doce atmosfera! Quem diria? Quando beijava uma criança de rosadas faces teria gostado de lhe arrancar as bochechas à navalhada, e tê-lo-ia muitas vezes feito se a justiça, com o seu longo cortejo de castigos, o não tivesse sempre impedido. Não era mentiroso, confessava a verdade e dizia-se cruel. Humanos, ouvis? Ele ousa repeti-lo com esta voz que treme! Ele é então um poder mais forte que a vontade... Maldição!