terça-feira, 4 de março de 2014

«SE POR DAR LUSTRE...»

Se por dar lustre aos pesares
Vossas lágrimas teimosas
Correm por margens de rosas,

Porque não cabem nos mares,
A submergir esses ares
Subiram rios crescendo,
E certo o naufrágio sendo,
A fineza deslustrais,
Porque podendo amar mais,
Deixareis de amar morrendo.

Deixai que o mar se dilate,
Que o rio se precipite,
Que o vento se fortifique,
Que em água a nuvem desate,
Sem que vós neste combate
Balas de neve esgrimindo,
Que as estrelas vão ferindo,
De neve e fogo tomeis
As armas com que ofendeis,
De amor os raios cobrindo.


Soror Madalena da GlóriaAntologia da Poesia Feminina Portuguesa - António Salvado., p. 63-64