terça-feira, 31 de dezembro de 2013

 
«Como às vezes olhavas para mim de soslaio, a recordação dessas missas ficou ligada à maravilhosa descoberta que se apoderava de mim: ser capaz de interessar, de agradar, de impressionar. O amor que eu sentia confundia-se com o que eu inspirava, ou supunha inspirar. Os meus sentimentos nada tinham de real. O que contava era a minha fé no amor que sentias por mim. Reflectia-se noutro ser, e a minha imagem assim reflectida não era repelente. Expandia-me numa descontracção deliciosa. Nunca mais esqueci a felicidade de sentir o degelo de todo o meu ser sob o teu olhar, sob as emoções que brotavam das fontes libertadas. Os gestos de ternura mais vulgares, um aperto de mão, uma flor guardada num livro - tudo para mim era novo, tudo me encantava.»


François Mauriac. O Nó de Víboras. Tradução de Maria Conceição Ramírez Cordeiro. Livros de bolso europa-américa., p. 22