terça-feira, 12 de novembro de 2013

XV

Naquele canto, onde tantas noites
dormimos juntos, vim sentar-me agora,
a caminhar. A cama dos noivos mortos
foi retirada, ou passou-se talvez alguma coisa.

Vieste cedo para outros assuntos
e já não estás aqui. Este é o canto
onde a teu lado uma noite li,
entre teus ternos pontos,
um conto de Daudet. É o canto
amado. Não o confundas.

Pus-me a lembrar aqueles dias
de verão passados, teu entrar e sair,
pequena e cansada e pálida nos quartos.

Nesta noite chuvosa,
já longe de nós dois, salto de súbito...
São duas portas abrindo-se fechando-se
duas portas que vão ao vento vão e vêm
sombra                    a                       sombra.











César Vallejo. Antologia Poética. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento. Relógio D' Água, Lisboa, 1992., p. 44