terça-feira, 6 de agosto de 2013

«-Vocês discutem demasiado facilmente sobre a dor e a confusão, disse Nora.
  -Espere! Respondeu o doutor. A dor de um homem corre com dificuldade, é verdade que lhe é difícil suportá-la, mas é igualmente difícil guardá-la. No que me diz respeito, enquanto médico, sei em que bolso um homem guarda o coração e a alma, e qual é a sacudidela do fígado, dos rins e dos testículos que faz com que esses bolsos sejam visitados. Só existem confusões; a esse respeito dou-lhe toda a razão. Nora, minha filha, confusões e inquietações vencidas - é isso que nos forma a todos e a cada um. Quando se é um gimnosofista é possível passar sem roupas e se tivermos as pernas em alamar sentimos mais vento entre os joelhos do que qualquer outra pessoa; e isso ainda é confusão; a via escolhida por Deus, vai ter a um muro.»



Djuna Barnes. O Bosque da Noite. Tradução de Paula Castro e Manuel Alberto. Relógio D'Água Editores, Lisboa, p. 35