quinta-feira, 25 de abril de 2013

JOB


Ó tu rosa-dos-ventos dos martírios!
Por tempestades de tempos primevos
Arrastada sempre noutras direcções dos temporais;
O teu Sul chama-se ainda Solidão.
Onde tu estás, é o umbigo das dores.

Os teus olhos estão encovados fundo no teu crânio
como pombos de cavernas na noite
que o caçador às cegas tira cá para fora.
À tua voz fez-se muda,
pois ela perguntou vezes demais porquê.

Para os vermes e peixes se foi a tua voz.
Job, a chorar passaste todas as vigias da noite
mas um dia a constelação do teu sangue
fará empalidecer todos os sóis nascentes.





Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 84