quarta-feira, 15 de agosto de 2012

uma a uma folheou as cartas que não escrevera a ninguém nem a si mesmo


« (...) estava morto, morto, tinham-no autênticamente condenado à morte; eles sabiam que um homem como ele não poderia viver numa tal jaula sem amor, durante vinte e cinco longos, longos anos; eles sabiam, os sacristas, sabiam que não seria necessário matá-lo, que bastaria aquilo; e bastou; o resto dele agora em nada, definitivamente nada, um corpo rico não de anos, porém de sofrimento, velho de angústia não só, mas de derrota; uma a uma folheou as cartas que não escrevera a ninguém nem a si mesmo»


Almeida Faria. Rumor Branco. Portugália Editora, Lisboa, 1962., p. 125