domingo, 29 de abril de 2012

«Parei um instante no areal e olhei. A santa solidão estendia-se na minha frente, triste e fascinante como o deserto. O poema búdico elevou-se do solo e insinuou-se até ao fundo do meu ser. « Quando é que, enfim, me hei-de retirar na solidão, só, sem companheiros, sem alegria e sem tristeza, só com a certeza de que tudo não passa de um sonho? Quando é que, com os meus farrapos - e sem desejos - me hei-de retirar cheio de alegria para a montanha? Quando é que, vendo que o meu corpo não passa de doença e crime, velhice e morte - livre, sem medo, cheio de alegria - me hei-de retirar na floresta? Quando? Quando? Quando?»



Nikos Kazantzaki. O Bom Demónio. Tradução de Fernando Soares. Editora Ulisseia, Lisboa,p. 31

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