«Talvez seja uma evidência esperar que o movimento surgido como proposta de interpretação do universo do realizador russo Andrei Tarkovsky seja lento, respirado, tenso. Às primeiras imagens de "Du Don de Soi", que Paulo Ribeiro criou para a Companhia Nacional de Bailado, a primeira peça que concebeu para a companhia e também aquela que abre a nova temporada (até dia 6 de Novembro e digressão nacional depois), os corpos dos 36 bailarinos vão invadindo um palco encoberto em sombras e encontrando, depositados no chão, os vestidos que carregarão ao longo de toda a peça, como vestes cerimoniais. As luzes de Nuno Meira e os figurinos de José António Tenente vão, assim, forçando o seu espaço por entre uma coreografia que pede corpos que saibam controlar cada gesto, cada movimento, cada olhar e cada passo da respiração. E quando os corpos, homens e mulheres, todos eles sem nome, sem um gesto que os distinga, compõem uma massa que é só uma imagem a dialogar com outra, que os vigia, de um homem que vai cavando a terra (vídeos de Fabio Iaquone), percebemos melhor porque é que Tarkovsky acreditava em imagens que "não significavam mais para além de si mesmas", tal como nos haikus, essa forma poética oriental de construção de imagens a partir de breves frases.»
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