quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012


«-Quero fazer-me monge para fugir ao desespero.
    E contou-lhe o seu amor, dizendo que Eufrósina, a  noiva, havia desaparecido de repente, que a procurava em vão havia oito anos e que se sentia queimado, ressequido de amor e de desgosto.
    Ela respondeu-lhe com uma celeste suavidade:
    -Senhor, essa Eufrósina, cuja perda chorais tão amargamente, não merecia tanto amor. Só a vossa imaginação torna preciosas a sua beleza; na realidade, ela é vil e desprezível. O que resta do seu transitório corpo não vale um simples lamento. Julgais que vos é impossível viver sem Eufrósina e no entanto, caso a encontrásseis, nem sequer a reconheceríeis.»


Anatole France. Contos Escolhidos. Selecção, Tradução e Prefácio de Mário Braga. Companhia Editora do Minho, 1967., p. 266

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