«CEDO acordei as volúpias
cedo acendi o meu choupo-branco
de mão na frente dirigi-me ao mar
e aí o erigi sozinho:
Sopraste e cercaram-me as procelas
uma a uma tiraste-me as aves -
Meu Deus chamaste-me e como fugir-te?
Fitei no futuro os meses e os anos
que hão-de regressar sem mim
e mordi-me tão fundo
que senti o meu sangue devagar a pulsar para o alto
e a gotejar do meu futuro.
Escavei a terra no momento em que era o culpado
e a tremer ergui a vítima na minha mão
e falei-lhe tão suavemente
que devagar os seus olhos se abriram e verteram orvalho
sobre o chão onde eu era culpado.
Derramei o negrume no leito do amor
com as coisas do mundo nuas no meu espírito
e o meu esperma lancei tão longe
que devagar as mulheres regressaram ao sol e sofreram
e voltaram a parir as coisas visíveis.
Meu Deus chamaste-me e como fugir-te?
Cedo acordei as volúpias
cedo acendi o meu choupo-branco
de mão na frente dirigi-me ao mar
e aí o erigi sozinho:
Sopraste e as minhas entranhas estremeceram
uma a uma voltaram-me as aves!»
Odysséas Elytis. Louvada Seja (Áxion Estí). Tradução e
posfácio Manuel Resende. Assírio&Alvim, 2004., p. 82/3
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