terça-feira, 4 de outubro de 2011

Fogo à palha

« Não tendo mais ninguém a quem dar ordens, Simone Lampo adquirira o hábito de dar ordens a si próprio. E dava ordens de chicote na mão:
   -Simone, para aqui! Simone, para ali!
  Impunha-se de propósito, por despeito do seu estado, as tarefas mais ingratas. Fingia por vezes revoltar-se para se obrigar a obedecer, representando ao mesmo tempo os dois papéis da comédia. Dizia, por exemplo, enfurecido:
   - Não quero fazer isso!
   -Simone, dou-te uma carga de pau. Já te disse, recolhe aquele estrume! Ah, não?
   Pum! Aplicava em si mesmo uma valentíssima bofetada. E recolhia o estrume.»


Luigi Pirandello. Contos Escolhidos. Prefácio do Prof. Ricardo Averini. Selecção e tradução de Carmen Gonzalez. Editorial Verbo, Lisboa, 1972.,p. 113

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