É triste o teu ansioso olhar. Quer conhecer o meu pensamento.
Também a lua quer penetrar o mar.
Conheces toda a minha vida. Nada te ocultei. Eis porque ignoras tudo a meu respeito.
Se a minha vida fosse uma pérola, parti-la-ia em mil pedaços, e desses pedaços faria um colar que te poria no pescoço.
Se a minha vida apenas fosse uma flor, suave e diminuta, colhê-la-ia da sua haste para a pôr nos teus cabelos.
Mas, oh minha amada, ela é um coração. Quais os seus limites?
Tu não conheces os limites deste reino e, contudo, és a rainha dele.
Se o meu coração só fosse prazer, vê-lo-ias florir num ditoso sorriso e de golpe o penetrarias.
Se ele só fosse sofrimento, derreter-se-ia em límpidas lágrimas, reflectindo silenciosamente o seu segredo.
Mas, minha bem-amada, ele é amor.
São ilimitados o seu prazer e a sua mágoa.
São eternas a sua miséria e a sua riqueza.
Ele está tão perto de ti - com a tua própria vida, mas tu nunca o conhecerás todo.
Rabindranhath Tagore. O Jardineiro d' Amor. Tradução de António Figueirinhas. Livraria Nacional e Estrangeira de Eduardo Tavares Martins. Porto, 1922., p. 50/1
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