Sem lilases é o teu cabelo, o teu rosto de espelho.
De olhos para olho segue a nuvem, como de Sodoma para Babel:
desfolha a torre como folhagem e brama em torno do arbusto de
enxofre.
Há então um relâmpago cortando a tua boca - aquele abismo
com os restos do violino.
Com dentes de neve há um que maneja o arco: mais belo o som
da cana!
Amada, também tu és a cana e nós todos a chuva;
o teu corpo um vinho sem igual, e somos dez a bebê-lo;
o teu coração uma barca no trigo, nós levamo-la em direcção à
noite;
um cantarinho azul, saltas assim ligeira sobre nós, e nós dor-
mimos...
Passa diante da tenda a centúria, e emborrachados levamos-te a
enterrar.
E soa então nas lages do mundo o duro táler dos sonhos.
Paul Celan. Sete Rosas Mais Tarde. Edição Bilingue. Antologia Poética, 3ª edição. Selecção, tradução e introdução de João Barrento e Y. K. Centeno. Edições Cotovia, 1996., p.5
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