Quantas folhas caíram esta noite, Platero! Parece que as árvores deram uma volta e têm a copa no chão e as raízes no céu, num desejo de nele se plantarem. Olha para aquele choupo: parece a Lucía,a acrobata do circo, quando, derramada a cabeleira de fogo no tapete, levanta, unidas, as suas belas pernas finas, esticando a malha cinzenta.
Agora, Platero, da nudez dos ramos, os pássaros hão-de ver-nos entre as folhas de ouro, como nós os víamos a eles no meio das folhas verdes, na Primavera. A canção suave que antes cantavam lá em cima as folhas, em que seca oração arrastada se tornou aqui em baixo!
Estás a ver o campo, Platero, todo cheio de folhas secas? Quando voltarmos a passar por aqui, no domingo que vem, não verás nenhuma. Não sei onde morrem. Os pássaros, no seu amor pela Primavera, devem ter-lhes dito o segredo desse morrer, belo e oculto, que não teremos, nem tu nem eu, Platero.
Juan Ramón Jiménez. Platero E Eu. Tradução de Luís Lima Barreto. Edições Cotovia, Lisboa, 2007, p.141
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