quinta-feira, 21 de julho de 2011

Aí tem a enfermidade de seu marido.

« - Sabe qual é o mal que corrói Ricardo?...Hem, não sabe?...Sabe, sabe, que eu já lho dei a entender. Hem?...Eu repito: amar Mónica em demasia. Garanto-lho. Julga-se no ocaso, o pateta, e para ele a esposa - não veja cumprimento que me limito a reproduzir palavras dele - é a madrugada. Gosta de si perdidamente e assim não é para admirar que o amor venha enlodado de ciúme. Ciúme de fera que não olha ao passado nem ao presente, mas apenas ao futuro, para lá dos anos, para lá, porventura, da morte, tão tirânico e absurdo é esse sentimento. Pode compreender semelhante aberração, se assim se lhe deve chamar?...Há-de poder...Eu posso. Aí tem a enfermidade de seu marido.»




Aquilino Ribeiro. O Arcanjo Negro. Livraria Bertrand, 1960., p. 244

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