quarta-feira, 22 de junho de 2011

HOMEM 1 (Lentamente)

   Vou ter que dar um tiro em mim próprio, para inaugurar o verdadeiro teatro, o teatro debaixo da areia.


DIRECTOR

Gonçalo


HOMEM 1

Como?...

(Pausa)


DIRECTOR (Reagindo)


   Mas não posso. Seria a ruína. Seria deixar cegos os meus filhos e depois que faço com o público?
   Que faço com o público se tiro o parapeito da ponte? A máscara viria devorar-me. Vi uma vez um homem devorado pela máscara. Os jovens mais fortes da cidade, com lanças ensanguentadas, metiam-lhe pelo traseiro grandes bolas de jornais deitados fora, e na América houve uma vez um rapaz a quem a máscara enforcou pendurado pelos próprios intestinos.


Frederico Garcia Lorca. O Público. Trad. de José Manuel Mendes, Luís Lima e Luís Miguel Cintra. Edições Cotovia, Lisboa, 1989, p.19

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