HOMEM 1 (Lentamente)
Vou ter que dar um tiro em mim próprio, para inaugurar o verdadeiro teatro, o teatro debaixo da areia.
DIRECTOR
Gonçalo
HOMEM 1
Como?...
(Pausa)
DIRECTOR (Reagindo)
Mas não posso. Seria a ruína. Seria deixar cegos os meus filhos e depois que faço com o público?
Que faço com o público se tiro o parapeito da ponte? A máscara viria devorar-me. Vi uma vez um homem devorado pela máscara. Os jovens mais fortes da cidade, com lanças ensanguentadas, metiam-lhe pelo traseiro grandes bolas de jornais deitados fora, e na América houve uma vez um rapaz a quem a máscara enforcou pendurado pelos próprios intestinos.
Frederico Garcia Lorca. O Público. Trad. de José Manuel Mendes, Luís Lima e Luís Miguel Cintra. Edições Cotovia, Lisboa, 1989, p.19
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