Relâmpagos na lenha: chuva em grossas gotas
Quentes como o corpo e túrgidas de presságio
Espirrando escuras no ferro do machado.
Esta manhã quando uma gralha saltitante
Inspeccionou um cavalo que dormia junto à lenha
Lembrei-me do orvalho sobre armadura e cadáveres.
Que iria eu encontrar na estrada, ensanguentado?
Onde, na pilha de lenha, se ocultava o sapo?
O que se espoja nesta escura calma das searas?
Recordas-te daquela pensão nas Landes
Em que a velha embalava, embalava, embalava
Um mongolóide, ao som de cançõezinhas?
Vem a mim depressa, estou cá em cima, e tremo.
Minha, toda tu, lenha sob o relâmpago.
Seamus Heaney. Da Terra à Luz. poemas 1966-1987. Tradução, Prefácio e Notas de Rui Carvalho Homem. Relógio D' Água, Lisboa, 1997., p.213
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