domingo, 6 de março de 2011

«Ah, é uma maneira de viver sem sentido, distante.
Estou aqui consigo, perfeitamente esgotado e a pensar
- a todo o momento - numa história, na minha história
inacabada que me espera. Estou agora a ver, uma nuvem,
aquela, ali, que me parece um piano enorme. E penso
logo que não posso esquecer-me de a incluir numa
história - uma nuvem que passou, flutuante, e que parecia
um piano enorme. Sinto, em redor, o perfume do heliotrópio.
E, num ápice, anoto no meu pensamento: perfume doce, do
tom da viuvez, lembrar e usar numa descrição de noite estival.»



A. Tchekov. A Gaivota. Tradução de Fiama Hasse Pais Brandão. Relógio D'Água, Lisboa, 1992.

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