sexta-feira, 18 de março de 2011

ACTO III

(Sala de jantar em casa de SORIN. À esquerda e à direita, há portas. Aparador. Outro armário, com muitos remédios. Mesa, no meio da sala. Uma mala e caixas de chapéus. Preparativos de viagem, bem visíveis. TRIGORIN está a almoçar. MASHA, de pé, junto da mesa)

MASHA          Se lhe falo nisto, é precisamente por o senhor
                        ser escritor. Se quiser, pode utilizar tudo. Se
                        ele estivesse gravemente ferido, eu não seria
                        capaz de continuar a viver nem mais um mi-
                        nuto. Ah, mas ainda conservo algum ânimo, e
                        resolvi arrancar este amor do meu coração, de
                        uma vez para sempre, arrancar-lhe raízes.

TRIGORIN       Como?

MASHA            Casando-me. Vou casar-me com o
                          Medvedenko.

TRIGORIN        O professor?

MASHA             Sim.

TRIGORIN         Para mim não é muito clara a razão que a
                           compeliu a isso.

MASHA             É um amor sem esperança, ano após ano à
                           espera...Se eu me casar, deixo de ter tempo
                           para o amor. Responsabilidades novas hão-
                           -de apagar os antigos afectos. De qualquer
                            modo vai ser uma situação nova para mim.
                            Acompanha-me? (Enche os copos)




A. Tchekov. A Gaivota. Tradução de Fiama Hasse Pais Brandão. Relógio D'Água, Lisboa, 1992., p. 59/60

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