segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

As mulheres

As mulheres estão muito distantes. As suas rou-
pas, o cheiro de «Boa Noite».
Pousam o pão na mesa para que não se sinta
como estão ausentes.
É então que nos sentimos culpados. Levantamo-nos
da cadeira e dizemos:
«Estás muito cansada hoje » ou então «Deixa, eu
acendo o candeeiro».
Quando pegamos no fósforo ela volta-se lenta-
mente
e dirige-se para a cozinha com uma aplicação
inexplicável. As costas
são uma pequena colina de amargura carregada
de mortos sem fim,
os mortos da família, os mortos dela e a nossa
morte.
Ouvem-se-lhe os passos a afastar latas velhas,
ouvem-se as travessas a chorar na banca, depois
ouve-se
o comboio que transporta os soldados para a
frente.


Yannis Ritsos. poemas. Selecção e Trad. de Egito Gonçalves. Prefácio de Carlos Porto. 1ª ed. Fevereiro, 1984. Editora Limiar., p.85

1 comentário:

  1. Lembrou me outra vez o Charles Simic , a guerra torna a poesia dilacerante....

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