sábado, 20 de novembro de 2010

IV Tortura e indústria

Não, isto não é uma prisão. Deve ser uma oficina. Aqui trabalha-se. Não podes deixar de ver grandes ferramentas, guinchos, plataformas elevatórias e potros. Há guindastes em movimento nestes pavilhões, correntes rangem, giram sarilhos e rodas. Ao fundo arde ainda o fogo, o fumo sobe. Parece mesmo que estamos numa forja. Só os pregos além são difíceis de explicar, e as estacas; e aquelas construções de madeira - não sabemos se são andaimes, se patíbulos.
 
As semelhanças entre os instrumentos de tortura de uma época e os seus
instrumentos técnicos.
Primeiro grau, esmagamento dos polegares em tornos com ranhuras ou pon-
tas rombas: a tortura de Bamberg.
Segundo grau, torniquete violento nos braços, feito com cordões de pêlo, e
torção das pernas: o instrumento de Mecklemburgo.
Terceiro grau, alongamento do corpo no potro ou sobre uma escada de mão,
acompanhado de queimaduras nos flancos, nos braços e nas unhas; a lebre
lardeada.
E assim a tortura se manteve nos tribunais alemães até ao fim do século
XVIII, e mesmo depois.
 
 
Hans Magnus Enzensberger. Mausoléu. Trad. e prefácio de João Barrento. Edições Cotovia, Lisboa, 2004., p. 93

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