Homens do presente
Homens do presente, nada do passado,
Antes de serdes as coisas que vemos,
Quem podia ter sabido ou pensado
Que seríeis hoje aquilo que temos?
Ah, passantes pela mesma via,
Quem pôde pensar-vos antes deste dia?
Homens do presente e pó de amanhã,
Ao passar dos anos aonde ireis ter?
Que rude mudez ou ânsia em pressa vã
Irá registar vossa dor ou prazer?
Ondas ou cristas do mar desta vida,
Quem vos pensará passado este dia?
Só o génio pode o fogo atiçar
Que na natureza em vós abrigais;
Só o génio pode a lira tocar
E erguer vosso nome aos céus dos mortais;
O génio pode a morte romper
E o nada de ontem num tudo verter.
Mas a virtude, como os choros humanos,
Pelos areais depressa bebida,
Mergulha no pó dos passados anos
E nem sabereis onde está escondida.
Que o génio, então, possa ser laureado;
Que o pó de amanhã seja eternizado.
Alexander Search (1904). Poesia. Ed e Trad. Luísa Freire. Assírio&Alvim, Lisboa, 1999., p. 29
Beatriz ao revisitar Fernando Pessoa neste seu lugar poético, através de um dos seus heterónimos menos conhecido, fica a sensação de ler e reler e a certeza de continuar a gostar. na memória apenas guardamos fragmentos localizados no espaço e no tempo, no reencontro as leituras reinventam-se.
ResponderEliminarEu sou sempre suspeita em relação a Fernando Pessoa e as suas múltiplas formas.
ResponderEliminarGosto e, quanto mais leio, mais me embrenho no seu mundo.