eu tinha um velho tormento
eu tinha um sorriso triste
eu tinha um pressentimento
tu tinhas os olhos puros
os teus olhos rasos de água
como dois mundos futuros
entre parada e parada
havia um cão de permeio
no meio ficava a estrada
depois tudo se abarcou
fomos iguais um momento
esse momento parou
ainda existe a extensa praia
a grande casa amarela
aonde a rua desmaia
estão ainda a noite e o ar
da mesma maneira aquela
com que te viam passar
e os carreiros sem fundo
azul e branca a janela
onde pusemos o mundo
o cão atesta esta história
sentado no meio da estrada
mas de nós não há memória
dos lados não ficou nada
Mário Cesariny. manual de prestidigitação. Assírio & Alvim, 1981. Lisboa., p.22/3
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