sábado, 7 de agosto de 2010

Acerca de um livro intitulado «Lolita»

«(«Procede como um louco. Todos nós procedemos como loucos, creio. Embora toda a gente devesse saber que detesto símbolos e alegorias (devido, em parte, à minha velha animosidade pelo macumbismo freudiano, e, em parte, à minha aversão pelas generalizações inventadas por mitistas literários e sociologistas), […]»

«Não se deveria esperar que nenhum editor deste país livre se preocupasse com a demarcação exacta entre o sensório e o sensual: é ridículo. Sou capaz de admirar, mas não consigo emular, a exactidão de critério dos que escolhem as fotografias das jovens louras e mamíferas e as publicam em revistas onde o nível geral de decote se situa a uma altura estudada para não provocar o riso aos mais atrevidos e um franzir de testa aos mais sisudos.»

«Há boas almas capazes de considerar Lolita inútil porque não lhes ensina nada.»

«[…] Tudo mais é um acervo de lugares-comuns ou aquilo a que alguns chamam «literatura de ideias», a qual não passa muitas vezes de um acervo de lugares-comuns em enormes blocos de gesso, cuidadosamente transmitidos de século para século, até que aparece alguém com um martelo e dá uma boa martelada a Balzac, a Gorki ou a Mann.»


Vladimir Nabakov. Lolita. Livros de bolso europa-américa. Trad. Fernanda Pinto Rodrigues, 1995., p.324/5

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