terça-feira, 10 de agosto de 2010

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Todas as nuvens ardem



Todas as nuvens ardem
porque te encontrei,
deus desejante e desejado;
tochas altas e cárdeas
(escarlates, azuis, rubras, amarelas)
num alto grito de rumor de luz.

Do horizonte redondo vêm todas
em reunião fulgente,
a abraçar-se com voltas de esperança
à minha fé respondida.

(Mar deserto, com deus
em redonda consciência
que me fala e me canta,
que me dá confiança e dá certeza;
por ti passo de pé
alerta, em mim firmado,
satisfeito porque minha viagem
é para o homem continuado, que me espera
um porto de chegada permanente,
de encontro repetido.)

Todas as nuvens que existiram,
que existem e existirão,
me rodeiam com sinais de evidência;
elas são para mim
a afirmação que se ergue do profundo
fundo de ar em que vivo;
o subir verdadeiro do subir,
do subir do achado no alto profundo.


Juan Ramón Jimenez. Antologia Poética. Selecção e Trad. de José Bento. Relógio D'Água, 1992, p. 168/9

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