«Um cardume de estrelas brilhava palidamente por cima de nós, entre as silhuetas das folhas finas e compridas, e aquele céu vibrante parecia tão nu como ela estava, sob o vestido leve. Vi o seu rosto reflectido no céu, com uma nitidez extraordinária. As suas pernas, as suas pernas encantadoramente vivas, não estavam muito unidas, e, quando a minha mão encontrou o que procurava, gravou-se-lhe nas feições infantis uma expressão sonhadora e misteriosa, em que havia prazer e dor. Estava sentada num plano um pouco mais elevado do que eu e, sempre que o seu êxtase solitário a impelia a beijar-me, inclinava a cabeça com um movimento sonolento, suave e lânguido, quase angustiado, e os seus joelhos nus pendiam e apertavam o meu pulso, para o libertarem em seguida. A sua boca trémula, franzida pela acidez de qualquer misteriosa poção, aproximava-se do meu rosto e sustinha a respiração, num hausto sibilante. Tentava, primeiro, apaziguar o sofrimento do amor comprimido violentamente os lábios ressequidos contra os meus; depois, a minha amada afastava-se e sacudia nervosamente o cabelo, para a seguir se aproximar de novo, sombriamente, e me deixar beber a vida na sua boca aberta, enquanto, com uma generosidade disposta a oferecer-lhe tudo - o coração, a garganta, as entranhas -, eu lhe dava a segurar na mão inexperiente o ceptro da minha paixão.»
Vladimir Nabakov. Lolita. Livros de bolso europa-américa. Trad. Fernanda Pinto Rodrigues, 1995., p.14/5
( sem palavras : é Nabokov )
ResponderEliminarÉ o primeiro livro que leio dele, muito embora me tenham dito que este, não é o 'seu melhor'. De qualquer forma, estou a gostar. Por ser tão doentio, até incomoda ehehehhe.
ResponderEliminarBoa semana.
É m.a.r.a.v.i.l.h.o.s.o. , e não acredites no que te dizem , lê e constata , o melhor de Nabokov .
ResponderEliminar( suponho tenha vindo a ser a biblia de qualquer pedófilo letrado , mas a quem seja menos dado a essas inclinações e atente na riqueza das metáforas e na mais requintada ironia , Lolita é uma pérola da literatura )
ResponderEliminaré assim, não é um discurso tão descabido na literatura, até porque, os poetas 'punheteiros' disfarçam os fulgores interiores nos versos que vão lançando ao mar... a diferença, é que aqui, diz-se com todas as letras. Depois a personagem e os contornos da trama, até agora, têm-me estado a perturbar...e, de alguma forma gosto do que é capaz de me perturbar.
ResponderEliminar« os poetas 'punheteiros' disfarçam os fulgores interiores nos versos que vão lançando ao mar...» , verdade , bem verdade , também tu o disseste com todas as letras , razão acrescida para acabares o livro !!!!
ResponderEliminar( e sem querer passar por «spoiler» o epílogo faz jus ao prólogo )
ResponderEliminar;-)