quarta-feira, 19 de maio de 2010

A Celebração do Lagarto

Leões na rua, vadios
Cães babando raiva e cio
Fera enjaulada dentro da cidade
O corpo da mãe
A apodrecer no asfalto do Verão.
Ele fugiu da cidade.

Desceu para Sul e passou a fronteira
Deixou o caos e a desordem
Tudo para trás das costas.

Acordou um dia numa pensão verde
Com um estranho ser rosnando ao seu lado.
O suor encharcava-lhe a pele luzidia.

Já está toda a gente?
Vamos dar início ao cerimonial.


Desperta!
Não te lembras de onde foi?
O tal sonho terminou?

A serpente era de ouro baço
Vítrea & enroscada.
Receávamos tocar-lhe.
Os lençóis eram prisões mortalmente abafadas
& ela sempre à minha beira.
Velha não era...jovem
De cabelo ruivo escuro
A pele branca e macia.
Corre prà casa de banho e vê-te
ao espelho!

Aí vem ela a entrar
Cada gesto dela é um século lento que eu não sei viver.
Deixo-me cair e encosto a cara
Ao cimento gelado.
Sinto a fria doçura do sangue a espicaçar-me,
O brando assobio das serpentes da chuva...

Brinquei em tempos a um jogo
Gostava de regressar rastejando mentalmente
Deves saber de que jogo se trata
É o jogo chamado «fazer de maluco»

Devias tentar brincar a esse jogo
Fechas os olhos esqueces o nome
Esqueces o mundo, esqueces toda a gente
E ambos erguemos uma torre diferente.

(...)


Jim Morrison. Uma Oração Americana e outros escritos. Assírio & Alvim, Lisboa., pp. 89-91

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