terça-feira, 13 de abril de 2010

O poeta delicado de ascendência humilde
foi sempre um cão batido e se não fosse
viveria mais infeliz ainda por não ser
o cão batido. É bom no fundo, amigo, leal, o dedicado.
Mas, nas entrelinhas dos sorrisos dele,
há sempre um rosnar doce de contida inveja:
é que outros a quem batem são leões ou alifantes,
porém não cães batidos. E não nasceram
nas palhas da província, embora se não escolha
onde se nasce para cão batido.


Jorge de Sena in Dedicácias. Guerra e Paz, Editores, 2010; p.97

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