No fundo do teu ser quem trazes prisioneiro,
Sedento de mais luz? Quem vela? Quem dominas?
Anseia a claridade
Num soluçar desfeito.
Os seus olhos não vêem,
Embora a luz acenda
O céu a cada aurora.
Quem vela, encarcerado,
No fundo do teu ser?
O cântico da vida
Encanta o ar, em torno...
E lutas, no silêncio...
As aves, na floresta,
Cantam o novo dia
E as flores o triunfo
Da vida renovada.
-Se a luz do céu triunfa
-Porque há noite em teus olhos?
- A noite foi-se embora e, embora,
No teu cárcer estreito,
Arde ainda, na sombra,
A lâmpada nocturna.
-Porque andam tão ausentes
A tua casa e o mundo?
Quem trazes prisioneiro
No fundo de ti mesmo?
Tagore in Poesias de Tagore (O Músico e o Poeta). Cadernos da «Seara Nova» Secção de Estudos Literários. Prefácio e Trad. de Augusto Casimiro. Lisboa, Seara Nova, 1939
Ninguém.
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