segunda-feira, 7 de setembro de 2009

o som das botas que descem as ruas, a fome que saliva dentro da boca
e, por entre as fachadas das sombras, oiço o grito dos mortos em pleno dia;

há um pai que chega tarde, e pousa a mão no calcanhar da mulher - que sofre de solidão
e a oeste, o vento desce pelas montanhas bravias até à aldeia,
onde cantam os pássaros (que fogem do ar das cidades negras).

Perto do mar os pescadores de caranguejos acordam antes do sol se pôr
lá longe, na abóbada do horizonte.

E a minha infância é um conto de migalhas de pão que dou aos pombos -, que ali,
em frente aos meus pés, pedem que me revele:

ah, meu pai!, connosco não estiveste para dividir o peixe,
connosco não estiveste para pôr toalhas brancas nas mesas de madeira velha;

desde o nascer. desde que os olhos viram o mundo. desde que, pela primeira vez disse uma palavra

e, ali não estiveste

pai ausente.

2 comentários:

  1. os textos do teu canto são quase sempre enigmáticos.
    a maioria das vezes não é fácil comentá-los (não que tenham de o ser), este porém requer que eu te diga que é muito interessante, gostei mesmo...

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  2. ;)

    de facto, já me 'viu' em coisas tão dispersas, que lhe compreendo a dificuldade.

    agradecida por me acompanhar neste 'canto'.

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