quarta-feira, 28 de agosto de 2024

SOLIDÃO


É o panorama duma cidade
O casario mudo sob um céu abrasado.
São duas linguagens emaranhadas
Que não se desentrançam
Um toque que não aflora
Numa coxa querida.

Aqui do alto
Como são minúsculos os corpos
Vãos os laivos de vida
Que se desenham no
Labirinto do espanto.
Perfilam-se as memórias
Na superfície diáfana dos olhos
E as cidades baralham-se
Desabam, reerguem-se
À sombra da inquietude
E da inconsciência humana.

A solidão é a geografia desesperada
De um mundo sem língua.


Tomás Sottomayor. Auberge Ravoux. Edições Língua Morta, 2021., p. 54

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