quinta-feira, 31 de maio de 2018


(...)

«A véspera da paixão
repete-se todas as noites:
cada noite: a última noite:
a mesma nota na corda vocal nocturna:
a exploração do som na cisterna vazia»


António BarahonaRitual Análogo. Extratextos de Catarina Baleiras. Edições Rolim., p. 49

V


«Conversámos de «coisas amáveis»
mantendo a distância de um deserto
entre as nossas miragens»


António BarahonaRitual Análogo. Extratextos de Catarina Baleiras. Edições Rolim., p. 52

(...)

«Plumas que semeiam
um jardim de pombos
a florir planctôn
na flotilha dos teus ombros»



António BarahonaRitual Análogo. Extratextos de Catarina Baleiras. Edições Rolim., p. 37

IV

Escrita surda a surdir do silen-
cio: pássaro líquido, dedo
a dedilhar um violino sob
a água ígnea do dilúvio

Depois do interlúdio inten-
sifico o sílex, sinalizo
seixo a seixo o sémen só-
lido, livro a livro, lixo

Em círculo de súbito so-
letrado, líquene no lábio
húmido com fogo posto

Até fundir em sacra labar-
eda, o gelo e a geada


António BarahonaRitual Análogo. Extratextos de Catarina Baleiras. Edições Rolim., p. 31
«This bird is distinguished by the sharpness
of its vision and the speed of its wings»

Plutarco

«A juventude intacta
intensamente animal.»

António BarahonaRitual Análogo. Extratextos de Catarina Baleiras. Edições Rolim., p. 28

terça-feira, 29 de maio de 2018


(...)

« Senhor, não é de ti que duvido:
mas de mim porque não morro»




António BarahonaRitual Análogo. Extratextos de Catarina Baleiras. Edições Rolim., p. 17

''devoradoramente mansa e devagarosa''



António BarahonaRitual Análogo. Extratextos de Catarina Baleiras. Edições Rolim., p. 15

surdir

verbo intransitivo

1.sair de dentro
2.sair de onde estava mergulhado; emergir
3.surgir, aparecer

verbo transitivo

resultar (de), advir (de)
(...)

«E procuro o sítio
pra afiar o bico
na solidão sem tempo,
fora do espaço num rito
realmente eterno»

António Barahona. Ritual Análogo. Extratextos de Catarina Baleiras. Edições Rolim., p. 12

segunda-feira, 28 de maio de 2018

Há 44 anos, a absolvição das ‘Três Marias’

Foi em Lisboa, em Maio de 1971, que Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa desafiaram a ditadura e decidiram escrever um livro a seis mãos, intitulado Novas Cartas Portuguesas.
A obra torna-se um símbolo e um macro incontornável na história o feminismo em Portugal. Há um antes e um depois destas três extraordinárias Marias.

NOVAS CARTAS PORTUGUESAS E O CASO DAS ‘TRÊS MARIAS”

Foi em Lisboa, em Maio de 1971, que Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa desafiaram a ditadura e decidiram escrever um livro a seis mãos, intitulado Novas Cartas Portuguesas.
Abordando temas proibidos e censurados durante o Estado Novo, como a guerra colonial, o adultério ou a violação, o aborto, e a subordinação da mulher.
Em Abril de 1972, o livro é publicado pela Estúdios Cor, sob a direção literária de Natália Correia. Três dias depois, o livro é proibido pelo regime, que o considerou pornográfico e contrário à moral e aos bons costumes.
Novas Cartas Portuguesas rompe com a legislação, moral e costumes vigentes na sociedade portuguesa, e ousa despertar a consciência social denunciando a guerra colonial, a discriminação a falta de liberdade, a marginalização das minorias e a subordinação da mulher na sociedade.

A obra torna-se num manifesto contra todas as formas de opressão, tornando-se um símbolo da luta pela liberdade, igualdade e direitos da mulher.

Escritas simbolicamente durante nove meses – de 1 de março de 1971 a 25 de novembro de 1971 – o livro ousa desafiar e questionar as representações sociais e o papel da mulher na sociedade portuguesa.
“Que desgraça o se nascer mulher! Frágeis, inaptas por obrigação, por casta, obedientes por lei a seus donos, senhores sôfregos até de nossos males”.
Partindo da história de Soror Mariana as autoras mostram a clausura da mulher portuguesa no seu quotidiano, seja num convento ou na sociedade patriarcal do Estado Novo.
“Que mulher não é freira, oferecida, abnegada, sem vida sua, afastada do mundo? Qual a mudança, na vida das mulheres, ao longo dos séculos?”
Abordando temas proibidos e censurados, como a guerra colonial, o adultério ou a violação, o aborto, bem como a questão da mulher enquanto sujeito do desejo e de subordinação.
“as mulheres bordam, cozinham, sujeitam-se aos direitos de seus maridos, engravidam, têm abortos ou fazem-nos, têm filhos, nados-mortos, nados-vivos, tratam dos filhos, morrem de parto, às vezes, em suas casas, onde apenas mudou o feitio dos móveis, das cadeiras e dos cortinados.” 
Três dias após o lançamento do livro, boa parte da primeira edição é recolhida e destruída pela censura de Marcelo Caetano, sob o pretexto e a acusação de que o seu conteúdo era “insanavelmente pornográfico e atentatório da moral pública”. 

As três autoras são acusadas e levadas a julgamento, num caso que ficará para a história como o das ‘Três Marias’, uma das primeiras grandes lutas pela causa feminista em Portugal. 
O julgamento indignou e mobilizou movimentos feministas e a opinião pública internacional. Em várias cidades americanas e do resto do mundo houve manifestações de solidariedade no dia 3 de Julho de 1973, data originalmente marcada para o início do julgamento.

A 25 de outubro de 1973 começa o julgamento.
Durante os dois anos em que durou o julgamento em Portugal, grupos de feministas organizaram  manifestações de protesto juntos às embaixadas e consulados portugueses em Londres, Paris e Nova Iorque.
De entre os nomes que assumiram a defesa pública das ‘três Marias’ encontra-se Simone de Beauvoir, Margarite Duras, Doris Lessing, Íris Murdoch e Stephen Spence.
A 7 de maio de 1974, dias após a Revolução do 25 de Abril, é lida a sentença pelo juiz Lopes Cardoso:
“O livro ‘Novas Cartas Portuguesas’ não é pornográfico nem imoral. Pelo contrário: é obra de arte, de elevado nível, na sequência de outras obras de arte que as autoras já produziram”. 

Artigo Disponível no link:  http://acegis.com/2018/05/ha-44-anos-a-absolvicao-das-tres-marias/

Há 107 anos, Carolina Beatriz Ângelo, a primeira mulher portuguesa, pioneira na Europa, a “conquistar” o direito ao voto

''Carolina Beatriz Ângelo, médica, republicana e sufragista, foi a primeira mulher a votar em Portugal, nas eleições realizadas para a Assembleia Nacional Constituinte, no dia 28 de maio de 1911.
Carolina Beatriz Ângelo torna-se a primeira mulher portuguesa, pioneira na Europa, a “conquistar” o direito ao voto.
A primeira lei eleitoral da I República, publicada a 14 de março de 1911, reconhecia o direito de votar aos «cidadãos portugueses com mais de 21 anos, que soubessem ler e escrever e fossem chefes de família».
Carolina Beatriz viu nesta redação ambígua da lei a oportunidade de exercer o direito ao voto, invocando a sua condição de chefe de família após o óbito de seu marido Januário Barreto em junho de 1910.
Viúva e com uma filha menor a cargo, com mais de 21 anos e instruída, dirigiu ao presidente da comissão recenseadora do 2º Bairro de Lisboa um requerimento no sentido de o seu nome «ser incluído no novo recenseamento eleitoral a que tem de proceder-se»
A 28 de abril de 1911, o juiz João Baptista de Castro proferia uma sentença histórica e revolucionária ao incluir o nome de Carolina Beatriz Ângelo no caderno de recenseamento eleitoral.

«Excluir a mulher (…) só por ser mulher (…) é simplesmente absurdo e iníquo e em oposição com as próprias ideias da democracia e justiça proclamadas pelo Partido Republicano. (…) Onde a lei não distingue, não pode o julgador distinguir (…) e mando que a reclamante seja incluída no recenseamento eleitoral».

Ao referir-se a cidadãos portugueses, o juiz Castro considerou que a lei englobava homens e mulheres, “pois se o legislador tivesse intenção de as excluir tê-lo-ia manifestado de forma clara”.
Assim, a 28 de Maio de 1911, nas eleições para a Assembleia Constituinte, Carolina Beatriz Ângelo tornou-se a primeira mulher portuguesa a exercer o direito de voto.
Carolina Beatriz Ângelo, à direita, com a correligionária da Associação de Propaganda Feminista Ana de Castro Osório, no dia das eleições para a Assembleia Nacional Constituinte. 28 de maio de 1911.
Em 1913, a República mudou a lei e interditou o voto das mulheres. Em 1931, o voto é concedido pela primeira vez a mulheres com cursos secundários ou universitários. Esta limitação era apenas aplicada à mulher, o que significava que apenas uma escassa minoria podia efetivamente votar.
O direito de voto só foi efetivamente alcançado com a Revolução de 25 de Abril de 1974, tornando-se universal para todos os cidadãos e cidadãs maiores de idade.''

Informação disponível no link: http://acegis.com/2018/05/carolina-beatriz-angelo-direito-ao-voto/
''Os pobres não têm um partido político forte e empenhado que os ajudem a lutar para sair duma vivência com carências várias. São só notícia de telejornal para gritarem na rua aquando de algum acidente, de preferência com sangue. O empobrecimento espiritual e cultural é também causa do empobrecimento material.''

A pobreza jamais é uma fatalidade, dizem.

''Recordemo-nos: Durante a anterior legislatura foi-nos dito: «é preciso empobrecer o país para o tornar mais competitivo», afirmou Passos Coelho, 1º ministro do executivo antecedente.
O maior drama, de parte significativa dos portugueses, é a pobreza. ''

sábado, 26 de maio de 2018

«Isto disse Blake, no instante em que a febre o devorava:

- «Ninguém durma na mesma cama muitos anos, que acabará por supor que o homem é um ser horizontal e que o universo cabe todo num quarto de dormir.»

Joaquim Manso. Pedras para a Construção dum Mundo. Livraria Bertrand, Lisboa., p. 175

«A humildade só tem merecimento, se representa poder de nós sobre nós.»

Joaquim Manso. Pedras para a Construção dum Mundo. Livraria Bertrand, Lisboa., p. 173
« - Tudo te dei, Pátria minha, e nada reservei para mim, a não ser o orgulho de ser teu filho!»

Joaquim Manso. Pedras para a Construção dum Mundo. Livraria Bertrand, Lisboa., p. 172
«Desde que o pensamento faz parte do nosso ser, podemos extrair das maiores derrotas as melhores vitórias.»

Joaquim Manso. Pedras para a Construção dum Mundo. Livraria Bertrand, Lisboa., p. 171

« - Quem sou? Porque sou? Para que sou?...»

Joaquim Manso. Pedras para a Construção dum Mundo. Livraria Bertrand, Lisboa., p. 170
«É nas tentações que nós sabemos até que ponto as nossas humilhações pagam os nossos erros.»

Joaquim Manso. Pedras para a Construção dum Mundo. Livraria Bertrand, Lisboa., p. 169

« - Acabei um grande amor e nas suas cinzas aprendi a fugir das ilusões que ainda me restam.»


Joaquim Manso. Pedras para a Construção dum Mundo. Livraria Bertrand, Lisboa., p. 169

'' as façanhas nos pergaminhos''

Joaquim Manso. Pedras para a Construção dum Mundo. Livraria Bertrand, Lisboa., p. 167

«Cristo morreu numa cruz.»

Joaquim Manso. Pedras para a Construção dum Mundo. Livraria Bertrand, Lisboa., p. 163

''A voz da tragédia''

Joaquim Manso. Pedras para a Construção dum Mundo. Livraria Bertrand, Lisboa., p. 158
«Christo, no meio da decomposição das sociedades que se perfumavam de nardo para escaparem à náusea do cheiro a cadáver, espalhou a semente da seara que o seu sangue tornou eterna.»

Joaquim Manso. Pedras para a Construção dum Mundo. Livraria Bertrand, Lisboa., p. 153

«(...) uma amarga desilusão quedava no fundo turvo de todos os letais prazeres »

Joaquim Manso. Pedras para a Construção dum Mundo. Livraria Bertrand, Lisboa., p. 151/2
«Os poetas interrogavam-se, na hora dúbia em que a Dúvida, com as suas asas crepusculares, tentava seguir a órbita dos astros.»


Joaquim Manso. Pedras para a Construção dum Mundo. Livraria Bertrand, Lisboa., p. 151

'' não há falta que não mereça perdão''


Joaquim Manso. Pedras para a Construção dum Mundo. Livraria Bertrand, Lisboa., p. 150

«Christo, adversário de retóricas, sofismas e a casuística, revelou-a, numa melodia divina, aos que o escutavam com sinceridade.» 

Joaquim Manso. Pedras para a Construção dum Mundo. Livraria Bertrand, Lisboa., p. 149
«Não tarda o melancólico príncipe em cujo peito a alegria abriu uma ferida que se não cura com promessas enganosas.»

Joaquim Manso. Pedras para a Construção dum Mundo. Livraria Bertrand, Lisboa., p. 147

«O homem não tenta demorar a sua atenção em si próprio, com receio de sucumbir sob o peso da sua miséria.»


Joaquim Manso. Pedras para a Construção dum Mundo. Livraria Bertrand, Lisboa., p. 146

''eloquência insofismável''


Joaquim Manso. Pedras para a Construção dum Mundo. Livraria Bertrand, Lisboa., p. 145

«(...) como o punhado de cinza que resume todas as grandezas, »


Joaquim Manso. Pedras para a Construção dum Mundo. Livraria Bertrand, Lisboa., p. 143

«Responda cada qual como souber, na sinceridade do seu coração.»


Joaquim Manso. Pedras para a Construção dum Mundo. Livraria Bertrand, Lisboa., p. 141

segunda-feira, 14 de maio de 2018

 Paulo Nozolino afirma-se contra a massificação da imagem pelo abaixamento da exigência estética, afirmando: “tive a sorte de ter podido construir a minha obra com tempo. De ter visitado lugares intactos, ainda não destruídos por hordas de turistas selvagens que graças às companhias low cost agora circulam pelo mundo. Foi um privilégio tocar nas colunas da Acrópole e nas pedras das Pirâmides de Gizé. Foi uma dádiva ter estado um dia inteiro em Auschwitz sem ver ninguém, ou caminhar livremente pelas areias do Wadi Rum. Parece que estou a falar de um tempo antigo, mas não. Foi só há 20 anos. As minhas fotografias são o testemunho disso. Das viagens que fiz, dos sítios que visitei, das pessoas que conheci. Toquei, vi e fotografei o sagrado. Continuo a fazê-lo
"A fotografia é agora um lugar comum, uma prática chinesamente democrática graças ao telemóvel. A voracidade de fazer imagens e de as disseminar criou um novo problema. A mediocridade e a banalização de tudo o que nos rodeia. Niepce ficaria estupefacto, se fosse vivo. O que demorou quase dois séculos a ser consolidado, foi destruído em apenas dez anos". 

Fotógrafo Paulo Nozolino