domingo, 14 de fevereiro de 2016

''A frieza perante a dor não é mais que treino e adaptação do homem face às condições do mundo moderno, perigo que o rodeia. Jünger projecta assim um homem ideal frio, cuja alma foi substituída por pedaços de aço e outros materiais duros, incapazes de sentir.''

imunidade à dor


''A violência e o choque são características dos tempos modernos, e criam um ser humano que se adapta e desenvolve uma segunda consciência, endurecida, que aproxima o homem comum de um soldado treinado.''
Cartier Bresson afirmou em Images à la sauvette [The decisive moment] (1952), que aquilo que mais se deve recear, é o artificialmente planeado (cf. Cartier-Bresson, 1952). O realismo é a essência da fotografia, a diferença primária entre a fotografia e a pintura.

Regarding the Pain of the Others [Olhando o Sofrimento dos Outros] (2003), Susan Sontag

familiaridade apática

prova documental

Anna Karina in La Religieuse (1966) By Jacques Rivette


memorialização do perigo

''Para Jünger a fotografia não tem uma função estética, como as artes. A sua função é capturar a realidade, o momento, numa reacção imediata.''
''A objectiva é um verdadeiro acto de agressão. Ela dispara fotografias como uma arma dispara tiros. E o fotógrafo deve ter a mesma frieza que um atirador ao disparar.''

“Fotografar pessoas é transformá-las em objectos”, escreveu Susan Sontag, 1986

satisfação voyeuristica

prazer derivado da dor

verbo grego sképtomai: ''olhar à distância''

transformação do homem num “espectador de calamidades” na era moderna (Sontag, 2003).

os efeitos da morte virtual

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

John Hoagland, American Civilians flee as guerrillas burn trucks on the coastal highway, Usulután, 1980–83


«Jünger interessa-se antes por imagens inconvencionais do ser humano projectado ou em situações de ameaça extrema, captado em toda a sua vulnerabilidade. “In a field of destructive torrents and explosions, was the tiny, fragile human body” (Benjamin, 1999: 84). O corpo humano é captado nos instantes fatais do perigo, como que se de um brinquedo irreal se tratasse, para assim criar uma educação fria e sem empatia do leitor perante o choque. Esta combinação da força industrial, tecnológica e destrutiva, e do corpo desprotegido, surge aqui como metáfora para a vida moderna.
Duas das fotografias foram tiradas na frente, no momento do ataque

Der gefährliche Augenblick: fotografias da catástrofe


«Der gefährliche Augenblick pode ser considerado uma verdadeira iconografia moderna do terror (Werneburg, 1992: 50), que se funda na estética do horror, do grotesco, e que representa o ideal de jüngeriano de civilização educada no perigo. Com efeito, o título do livro remete-nos directamente para o perigo e para o olhar, estabelecendo uma relação entre os dois. Para Jünger a sociedade é controlada e dirigida para que aquilo Isabel Gil denomina de literacia visual do perigo (Gil, 2012: 147), através das imagens de violência que treinam a visão como um acto de agressão.»

“trauma is a disorder of memory and time” (Baer, 2002)

«Baer nota que “trauma is a disorder of memory and time” (Baer, 2002: 9) e evoca a metáfora da câmara fotográfica utilizada por Freud para explicar o evento traumático: a câmara capta o acontecimento presente e os seus negativos são guardados, tal como as memórias são arrumadas no inconsciente. Mais tarde, quando estes negativos são revelados, o acontecimento é vivenciado como no momento original, ocorrendo desta forma um desfaseamento temporal. Também Barthes reconhece o “choque fotográfico” (Barthes, 2010: 31), embora não tanto como um trauma, mas como uma surpresa, que revela aquilo que o autor desconhecia ou do qual não estava consciente.
Os traumas do início do século XX deram origem a uma forma moderna de consciência fotográfica, que foi desenvolvida para possibilitar ao homem proteger-se e defender-se contra a dor da catástrofe através da auto-objectivação - produzindo o “trabalhador”, frio e racionalista, dotado de qualidades militares, com o seu corpo e mente blindados contra os choques tecnológicos da fábrica ou zona de guerra.»

Abraham Zapruder, [Still from 8mm home movie of assassination of President John F. Kennedy Jr., Dallas], November 22, 1963

o fascínio pela catástrofe

A fotografia é memória do acontecimento que o fotógrafo presenciou e aprisionou numa imagem para a posteridade.

«A fotografia evoca sempre um tempo passado. O “isto foi” a que Barthes se refere em La Chambre Claire [Câmara Clara] (1980) (Barthes, 2010: 107). A fotografia é memória do acontecimento que o fotógrafo presenciou e aprisionou numa imagem para a posteridade. Por outro lado, as fotografias criam a ilusão de imediato. O tempo passa e os intervenientes da fotografia estão eternamente suspensos na mesma pose, tal como momento em que foi captada, criando uma ilusão de presente para o espectador. É por essa razão que é necessário abandonar a noção de história e tempo como uma linha de sequência para melhor compreender estas fotografias, que devem ter uma aura de intemporalidade em seu redor. A fotografia é um fragmento, um momento isolado, que é eternamente repetido, como que se de um trauma se tratasse (cf. Baer, 2002).»
«Como realça Baer, no que diz respeito à relação entre imagem e texto na obra de Jünger, o papel das narrativas parece antes ser o de duplicar as operações metonímicas da fotografia (cf. Baer, 2002). Na verdade, a narrativa inicia-se muitas vezes a meio e não há relação entre os vários textos individuais, assumindo-se assim que o leitor tem suficiente conhecimento para dar sentido às narrativas.»
«Note-se que a fotografia é estática. Não tem movimento como o filme, que nos conta uma história e nos oferece uma visão global e detalhada dos acontecimentos. Na fotografia, sem legenda, não há contexto. As imagens oferecem apenas fragmentos de compreensão, necessários para completar, interpretar e imaginar o que está para além do quadro fornecido pela objectiva. Não conhecemos o antes nem o depois. Apenas o momento fugazmente captado, órfão de espaço e de tempo.»
«Para Barthes, “today, at the level of mass communications, it appears that the linguistic message is indeed present in every image” (Barthes, 1988: 38), o que, para o autor, significa que não podemos falar numa civilização da imagem, pelo contrário, somos uma verdadeira civilização da escrita. A linguagem verbal tem assim a tarefa de ajudar na compreensão das imagens e pode exercer duas funções: a de ancoragem e a de revezamento – pouco frequente na imagem fixa (cf. Barthes, 1988).»

“o peso das palavras, o choque das fotografias” (Bauret, 1992)

“palavra e imagem é como cadeira e mesa; para estarmos à mesa necessitamos das duas”

''A imagem é a forma de comunicar uma mensagem. No caso de Jünger uma mensagem política clara, como vimos. Qual o sentido de determinadas fotografias? A fotografia deve ser abordada semioticamente e interpretada quanto ao seu significado, e não face ao seu prazer estético. A fotografia é uma imagem visual, um conjunto de diferentes tipos de signos, que formam uma própria linguagem – visual, um instrumento de expressão e de comunicação (Joly, 1994: 55). O seu significado depende da cultura, que oferece informações que ajudam a decifrar a fotografia. Por isso a leitura de uma fotografia nem sempre é universal, necessitando da palavra como âncora: “palavra e imagem é como cadeira e mesa; para estarmos à mesa necessitamos das duas” (Godard apud Joly, 1994: 119). Ou como a revista Paris Match fundamentou toda a sua campanha de promoção - “o peso das palavras, o choque das fotografias” (Bauret, 1992: 34)''

“the school of danger” (Jünger, 1993)

tecnologia através de câmaras e lentes

“artificial eye of the civilization” (Jünger, 1993b: 31)

Alen MacWeeney, Nightwalkers, Dublin, Ireland, 1965.


“danger appears merely as the other side of our order”

«A máquina é destrutiva. Basta recordar as invenções e avanços técnicos no campo das armas de guerra. Armas que protegem e que ao mesmo tempo destroem. No fundo, porque, como diz Jünger, há uma relação demasiado próxima entre o perigo e a ordem – “danger appears merely as the other side of our order” (Jünger, 1993b: 30). O homem é feito de opostos que o equilibram – o desejo de ordem e os seus instintos selvagens básicos. A máquina, contudo, combina esse mesmo equilíbrio: é fruto das projecções civilizacionais e de organização, e ao mesmo tempo é selvagem e provoca acidentes diariamente.»
Negar o destino, torna a vida humana “intolerably boring (...) above all because the human hart is in need not only of security, but danger too” (Jünger, 1993b: 29).
«Jünger repete pelo menos três tipos de representações para ilustrar a idade cibernética (Biro, 1994: 103), são elas: o homem representado como cyborg, os humanos representados como massas organizadas e imagens de espaços e tempo tecnologicamente dominados.»

cyborg

''Der Arbeiter explora as extensões tecnológicas do corpo humano, desenvolvendo, de acordo com Matthew Biro (cf. Biro, 1994), a figura do cyborg. Trata-se de um retrato utópico de um mundo física e moralmente transformado pela tecnologia, em que Jünger “describes the new human – no longer an individual but a ‘type’ – in terms of quasi-cybernetic characteristics” (Biro, 1994: 100), entre as quais, a capacidade de se destruir e a sua insensibilidade à dor. O novo tipo é também marcadamente masculino. Jünger rejeita as representações femininas e delicadas, que vê associadas às aspirações de uma paz sem progresso, assim como o Romantismo do século XIX e os seus personagens dandys, optando por uma estética masculina que considera moderna e heróica (Herf, 1986: 78). O homem é dotado de técnica, frieza, precisão e eficácia; é o eleito para interagir com a tecnologia e participar na guerra.''



«Em Metropolis (1926) Fritz Lang representa o cyborg como uma figura feminina, criada pelo cientista Rotwang que constrói um robot, que é uma cópia mecânica da mulher que amava. Mais tarde, Rotwang dá a aparência de Maria ao robot, que assim se materializa numa criatura que combina características humanas e tecnológicas: o cyborg. Ao mesmo tempo, Lang associa o mundo mecanizado e os trabalhos industriais quase exclusivamente ao homem. Biro observa que é criada uma ambivalência “by the contradiction between a good or useful technology, indentified with the controlling gazes of the film’s leading men, and a dangerous form of technology, whichthe film naturalizes and identifies with female sexuality” (Biro, 1994:85).»

o homem-tipo jüngeriano

esteticização da Guerra

colectâneas fotográficas


''Para Jünger a câmara é uma arma de guerra como as outras. “Day in day out, optical lenses were pointed at the combat zones alongside the mouths of rifles and cannons” (Jünger, 1993: 24). A câmara é um instrumento de reprodução do real e de preservação da memória.No fim dos anos 20 e início dos anos 30, Jünger produziu uma série de colectâneas fotográficas com o tema da Primeira Guerra Mundial – Luftfahrt tut not (1928), Die Unvergessenen (1928) e Der Kampf um das Reich (1929). Jünger apoia-se na objectiva para um testemunho fiel dos acontecimentos.''

câmara fotográfica

objectiva como arma pronta a disparar

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016



Interview: Duane Michals on 50 Years of Sequences and Staging Photos.

"No, no, commercial work is, I’m paid to do pictures for somebody, and when I do my own work, I do my own work. I never want my own work to support me. That was never an option. I did my own work for my own pleasure. Young people somehow think they’re going to graduate and get their portfolio and somebody is going to have an exhibit and they are going to sell $30,000 photographs and they’re going to be Cindy Sherman—that’s a big mistake."

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016


Guerras Napoleónicas

«(...) para bem da sociedade e desenvolvimento da civilização, o indivíduo é sacrificado, e forçado a renunciar a parte dos desejos e pulsões instintivas, nomeadamente sustendo a líbido e a agressividade: “Integration in, or adaptation to, a human community appears as a scarcely avoidable condition which must be fulfilled before this aim of happiness can be achieved” (Freud: 1962: 87).

A tarefa de evitar o sofrimento coloca a da obtenção do prazer em segundo plano. Com este comportamento, o homem gera doenças na alma e no corpo.»
Powered By Blogger