terça-feira, 12 de janeiro de 2016

imagem desfocada

"As pessoas caem como folhas / E secam no pó do desalento / Se não as leva consigo / A fúria poética do vento. / Para que se justifique a nossa vida / É preciso que alguém a invente em nós" (I, p. 10)

Natália Correia

''concluir a sua obra e observá-la como concluída''

a escritora Natália Correia, teve essa graça

"O sol na noite e o luar nos dias"

Natália Correia (1923-1993)

Edward Steichen, Heavy Lilies, 1936


“Não adianta tentar – afirmou ela. – Não se pode acreditar
em coisas impossíveis. (Alice)
– Eu diria que não tens treinado muito – retorquiu
a Rainha. – Quando eu era mais nova, treinava sempre
meia hora por dia. Ora, às vezes chegava a acreditar
em seis coisas impossíveis antes do pequeno-almoço”

CARROLL, Lewis (1978), Alice do Outro Lado do E spelho, Sintra: Europa-América,pág.70
“(…) sempre resisti ao poder do tempo graças a um
impulso interior que eu próprio não entendo muito bem,
sempre me fechei à chamada actualidade, na esperança
(…) de descobrir que todos os momentos do tempo
existiram simultaneamente, caso em que nada do que
a história conta seria verdade, os acontecimentos não
aconteceram, estão à espera de acontecer no momento
em que pensarmos neles (…)''

SEBALD, W. G. (2004), Austerlitz, Lisboa: Teorema, pág.96

António José Forte


segunda-feira, 11 de janeiro de 2016


«A erva, desmaiada pela chuva, deixa cair os seus caules ao chão, (...)

Maximo Gorki. Ganhando o meu pão. Obras completas. Editorial Início. 1970., p. 185

''sono outonal''

''distribuía os pássaros que serviam de isca''


Maximo Gorki. Ganhando o meu pão. Obras completas. Editorial Início. 1970., p. 184

«(...) ao longe, ouviam-se uivar os chacais, também eles atormentados pelo amor e pela fome.»

Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 291

« - O anjo não é mais que um diabo que se foi aperfeiçoando, estás a ouvir?»


Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 290

Ruth Orkin, Marian Anderson and Leonard Bernstein, Lewinsohn Stadium, 1947



«Ora o que eu pretendo afirmar é que o homem deve viver a sua juventude até ao fim, todas as paixões viris, abrir o ventre a todos esses ídolos e descobrir depois que, afinal, estavam cheios de palha e de vento; ficar por fim vazio, purificar-se em seguida e não ter mais a tentação de olhar para trás; só então estará em condições de apresentar-se perante Deus. A esse chamo eu um lutador.»


Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 289

« - Ri-te ou zanga-te; desoprime esse coração, mas ouve bem, sou eu que te falo, o gato escaldado, portanto tens o dever de o escutar. Há sete dias que te vejo andar para aí à volta do fogo de Deus, como uma borboleta noctívaga. Ora eu não quero que tu te queimes - tu, não é bem o termo -, a juventude. Tenho pena dessas faces ainda envoltas em penugem, desses lábios ainda não saciados de beijos e blasfémias, dessa alma ingénua que anda por toda a parte atrás do fogo a ver se se queima. Não, eu não permitirei que isso aconteça. Estás à beira do abismo, mas não te deixarei cair.
-Mas de que abismo?
-Do abismo de Deus.»



Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 288

«Não passava de um bruto que jamais se cansava de comer, beber e de andar abraçado a mulheres. Vendera a alma ao Diabo e o corpo andava sem dono, à rédea solta; ria-me de Deus que, para mim, não passava dum espantalho bom para meter medo aos pássaros idiotas e impedi-los de ir debicar nos jardins.»


Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 285
«A morte é obra de Deus; o ponto onde Deus toca no Homem. Mas a decadência é uma coisa infame e pérfida;»

Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 284/5

LOVE, MARILYN Jack Cardiff, Milton H. Greene, Marilyn Monroe, Laurence Olivier. (photo Milton H. Greene)


Um poema de Rosa Alice Branco



Dias melhores


A mulher espera as noites e também os dias,
esperta o lume enquanto, esperta a espera.
Há umas quantas coisas que a prendem, coisas
que arrecadou para a vida e já não servem.
Quem serve é ela e serve a Deus desfiando o rosário
pelos que já lá estão.
Por aqui vai-se indo, vai-se levando a vida
para o outro lado enquanto se esperam dias melhores,
dias mecânicos, a labuta dos músculos, a cabeça em paz
e a noite cansada, os pensamentos cansados,
o sofrimento cansado só quer estender o corpo
até de manhã. Quando mal nunca pior,
o café quente, o pão acabado de fazer
como se fosse cedo e as mãos na sua azáfama
pudessem fazer os dias gloriosos as noites luminosas
com que sonhou e já não servem. Agora só a espera
e as coisas que foi arrecadando para a morte.


em Da Alma e dos Espíritos Animais, Porto: Campo das Letras, 1ª edição, 2001, p. 14.
"Olha para mim, estou no céu / Tenho cicatrizes que não podem ser vistas / Olha para mim, estou em perigo / Já não tenho nada a perder.”

David Bowie
"David Bowie était un personnage de Jean Cocteau, l'ange Heurtebise" 

Gilles Jacob.
''Porta no trinco e nada nas mãos.
Há muito que é tudo o que resta.''

Cena de ''Paris ao Amanhecer'' (1960), de Johan van der Keuken e James Blue


Um poema de R. Lino



Tríptico encontrado nas grutas de Kabir-Dá ou o verdadeiro espaço da ficção





I


não mais será quem do dizer se afastou.
uma breve camisa aberta
por ser perto o verão
um som antigo de cor macia
a língua calada e a boca à espera.
esse que dos olhos já refeito se aproximou
saberá quantos os dentes e a boca para dizê-los
e ainda quanto de exemplo têm valor
as histórias ao ritmo do sangue
outra a vida e os sentidos,
únicos e rigorosos os bafejantes elos.




II


horas e horas serão a fio como os dias;
as páginas sem cor dos jornais
por consultar sobre a mesa ao fim da tarde
ficam entre as linhas e os círculos
impossíveis à sombra de cada esquina.
com o sono a pé sobre os tempos
que os fusos já não marcam
limita-se a vida entre a morte
e o que para ela já ocorre.




III


a luz é pouca e os gestos sombrios.
sob os pés caem húmidos os passos
e o corpo esquece,
como se cair e não estar de pé
fosse modo de travessia.
de um sentido em desequilíbrio
a destruição sublinha o sangue
que se oferece mais fundo
sob o vulcão em que se adensa a visita.
os postais não dizem
para os que ficaram lá em cima
à porta das luzes
onde é possível anunciar que se não dorme;
vendidos porventura por dois moços
com a fome e provavelmente encardidos,
ninguém dirá como estão marcados
de tudo quanto ficou
por ser lá em baixo.




em Atlas Paralelo, Porto: Gota de Água/Imprensa Nacional Casa da Moeda, colecção Plural, 1984, pp. 13-15.
Carl Tanzler era um radiologista alemão que afirmava ter nove graduações universitárias, dizia ter sido um capitão de um submarino e um inventor. Pelo que se sabe hoje, ele era apenas um homem excêntrico que abandonou sua esposa e filhos na Alemanha para trabalhar noUnited States Marine Hospital, na Flórida (EUA), em 1927.
Depois de aceitar o emprego, Carl acabou conhecendo Maria Elena Milagro de Hoyos, uma jovem cubana de 21 anos que se tornou sua paciente. Dizem que, ao vê-la, o radiologista soube que se tratava da mulher dos seus sonhos - literalmente. Ele contou para todos os seus conhecidos que sonhava com uma moça muito parecida todas as noites e que ela estava destinada a ser o amor de sua vida. 
Tanzler e Maria Elena (Foto: Florida Public Library)
Ao ser examinada, Maria Elena foi diagnosticada com tuberculose - o que, na época, era praticamente uma sentença de morte. Desesperado com a possibilidade de perder sua alma gêmea, Carl tirou (muito) dinheiro do próprio bolso para salvá-la. Ele administrava tônicos 'especiais' na paciente, comprou uma máquina de raio-X de forma ilegal para levar à casa de Elena e a cobria de presentes e de declarações amorosas.
Apesar dos esforços do alemão, Elena morreu no dia 25 de outubro de 1931. Tanzler insistiu em pagar por um mausoléu onde o corpo da moça seria sepultado e, com a aprovação da família da morta, contratou um agente funerário para tratar o corpo. Com isso, ele conseguiu uma chave para ter acesso ao mausoléu.
Durante dois anos, Tanzler visitava Elena todas as noites. Como seus hábitos começaram a causar desconfiança, ele foi demitido do hospital e parou de ir ao cemitério. 
O mausoléu de Elena (Foto: Florida Public Library)
Mas isso não quer dizer que ele desistiu. Eventualmente, ele tirou o corpo de Elena do mausoléu e a colocou em um laboratório que ele construiu a partir da carcaça de um avião. Usando gesso, cera, fios e olhos de vidro, Tanzler transformou os restos mortais da moça e a levou para sua casa - especificamente para sua cama.
O avião convertido em laboratório (Foto: Florida Public Library)
Durante anos, o radiologista preservou o corpo de sua amada estufando seu abdômen com trapos, colocando cabelo de verdade em seu crânio e a banhando em perfume e óleos aromáticos para disfarçar seu odor. Ele também comprava diferentes roupas para ela - o que começou a levantar suspeitas na cidade. O que um homem que morava sozinho fazia com tantas roupas femininas?
O rosto de Elena (Foto: Florida Public Library)
Em outubro de 1940, a irmã de Elena confrontou Tanzler - ele, eventualmente, permitiu sua entrada em casa. Lá, a mulher encontrou uma 'boneca de cera', sem suspeitar se tratar do corpo da irmã, e alertou as autoridades. Só após exames, policiais perceberam que era Elena.
Durante a autópsia, eles notaram que o radiologista havia inserido um tubo no canal vaginal da morta para preservar sua vagina - no entanto, não se sabe se teria havido penetração.
Tanzler foi preso e, surpreendentemente, ganhou até apoio público - pessoas o viam como um romântico. Em seu julgamento, ele confessou que pretendia usar um avião para levar Elena até a estratosfera onde a radiação penetraria seus tecidos e faria com que eles voltassem à vida.
TAnzler durante seu julgamento (Foto: Florida Public Library)
O radiologista não ficou muito tempo na cadeia - afinal, muitos de seus crimes haviam sido prescritos - e viveu o resto da vida sem incidentes (apesar de ter pedido o corpo de Elena de volta, o que foi negado, e de ter mantido uma máscara similar ao rosto da moça junto de si até o fim de seus dias). 
Após o caso ter ganho notoriedade, o corpo de Elena foi exposto ao público em uma casa funerária. Após a exposição ser fechada, ela foi enterrada em um túmulo sem nome, para que pudesse, finalmente, descansar em paz.
O corpo de elena em exposição (Foto: Florida Public Library )

O século XX está agora oficialmente morto.

Morte de David Bowie.

David Bowie explained how he used 'cut ups' to create lyrics


ego-cogito-cogitatum

O esquecimento do ser

Heidegger

ser-para-a-morte.

sem-rosto uni-forme

estar-em-antagonismo

a verdade do ser


''o Soldado Desconhecido na experiência interior da guerra.''

''Pensar a linha: Nietzsche, Ernst Jünger, Martin Heidegger e a confrontação sobre a técnica na era do niilismo''

não-poder-mais-estar-aí

Marilyn Monroe at the press launch of The Prince and the Showgirl, Savoy Hotel, 15 July 1956. Photograph Larry Burrows


“Quão rápido se muda também o mundo
Como formas de nuvens,
Todo o perfeito cai

De regresso ao arcaico.
Por sobre o mudar e o andar,
Mais largo e mais livre
Dura ainda o teu pré-cantar,
Ó deus da lira.

Não se conhecem as dores,
Não se aprendeu o amor,
E o que na morte nos afasta

não está desvelado.
Só a canção sobre a terra
consagra e celebra.”

Rilke, Sonetten an Orpheus (I. Parte, XIX)

conciliábulos

domingo, 10 de janeiro de 2016

''casca branca de sicómoro''

piegas

Ava and cinematographer Jack Cardiff


Blackstar



Blackstar

In the villa of ormen, in the villa of ormen
Stands a solitary candle, ah-ah, ah-ah
In the centre of it all, in the centre of it all
Your eyes

On the day of execution, on the day of execution
Only women kneel and smile, ah-ah, ah-ah
At the centre of it all, at the centre of it all
Your eyes, your eyes

Ah-ah-ah
Ah-ah-ah

In the villa of ormen, in the villa of ormen
Stands a solitary candle, ah-ah, ah-ah
In the centre of it all, in the centre of it all
Your eyes
Ah-ah-ah

Something happened on the day he died
Spirit rose a metre and stepped aside
Somebody else took his place, and bravely cried
(I’m a blackstar, I’m a blackstar)

How many times does an angel fall?
How many people lie instead of talking tall?
He trod on sacred ground, he cried loud into the crowd
(I’m a blackstar, I’m a blackstar, I’m not a gangster)

I can’t answer why (I’m a blackstar)
Just go with me (I’m not a filmstar)
I’m-a take you home (I’m a blackstar)
Take your passport and shoes (I’m not a popstar)
And your sedatives, boo (I’m a blackstar)
You’re a flash in the pan (I’m not a marvel star)
I’m the great I am (I’m a blackstar)

I’m a blackstar, way up, oh honey, I’ve got game
I see right so white, so open-heart it’s pain
I want eagles in my daydreams, diamonds in my eyes
(I’m a blackstar, I’m a blackstar)

Something happened on the day he died
Spirit rose a metre and stepped aside
Somebody else took his place, and bravely cried
(I’m a blackstar, I’m a star star, I’m a blackstar)

I can’t answer why (I’m not a gangster)
But I can tell you how (I’m not a flam star)
We were born upside-down (I’m a star star)
Born the wrong way ‘round (I’m not a white star)
(I’m a blackstar, I’m not a gangster
I’m a blackstar, I’m a blackstar
I’m not a pornstar, I’m not a wandering star
I’m a blackstar, I’m a blackstar)

In the villa of ormen stands a solitary candle
Ah-ah, ah-ah
At the centre of it all, your eyes
On the day of execution, only women kneel and smile
Ah-ah, ah-ah
At the centre of it all, your eyes, your eyes
Ah-ah-ah

«(...) ficaram a olhar para o lume, com o pensamento muito longe dali.»

Mark Twain. As Aventuras de Tom Sawyer. Círculo de Leitores., p. 124
«(...), e deitam pães à água com mercúrio dentro''


Mark Twain. As Aventuras de Tom Sawyer. Círculo de Leitores., p. 123
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