sábado, 31 de dezembro de 2016

Tragédia da incomunicabilidade


"o cancro da técnica seria, não a rebelião romântica, mas o cepticismo dentro da técnica.''
«a Terra não deixa de ser selvagem, em qualquer lugar, como no nosso "coração"»

Edmundo Cordeiro
''pessoa singular (Einzelne) - em oposição ao indivíduo (das Individuum) ''

modus vivendi


"mundos prévios"

A figura do trabalhador (Gestalt des Arbeiters)

Diz Ernst Jünger em Der Waldgang que a nossa época é pobre em grandes homens, mas produz figuras.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

''anarquia frutífera''

''El lado oscuro del corazón'' filme de Eliseo Subiela, 1992.


''a voz do demónio alemão''

         «Hoje nós já vemos, através das fendas e das rachaduras da torre de Babel, um mundo todo gelado, cuja visão faz estremecer mesmo o coração mais corajoso. Em breve, o tempo do progresso nos parecerá enigmático como os segredos de uma dinastia egípcia. Mas, naquela época, o mundo comemorou cada um dos seus triunfos, que emprestavam ao vencedor, por um instante, a centelha da eternidade. Com punhos demasiado violentos, mais ameaçadores que Hanibal, aqueles exércitos, cuja imagem se perde no tempo, haviam batido nos portões das grandes cidades e dos estreitos fortificados do mundo.»


Ernst Jünger. A mobilização total (Ensaio). Tradução e notas de Vicente Sampaio. Natureza Humana 4(1): 189-216, jan.-jun. 2002

 «Por trás de toda solução salvadora em que esteja desenhado o símbolo da felicidade, espreitam a dor e a morte. »



Ernst Jünger. A mobilização total (Ensaio). Tradução e notas de Vicente Sampaio. Natureza Humana 4(1): 189-216, jan.-jun. 2002
«Ao mesmo tempo cresce o valor das massas. A medida de assentimento, a medida de publicidade, torna-se o fator decisivo da política. Em particular o socialismo e o materialismo são as duas grandes moendas entre as quais o progresso tritura o resto do velho mundo e, por fim, a si mesmo. Por mais de um século, a “direita” e a “esquerda”, como que em um jogo de bola, lançaram de lá para cá as massas deslumbradas pela ilusão de óptica do direito ao voto. Sempre pareceu que uma das partes acreditava poder responder de maneira diferente às reivindicações da outra parte. Mas hoje, em todos os países, revela-se, de modo sempre mais evidente, o fato de que a identidade deles e mesmo o sonho de liberdade desvanecem como que espremidos entre as garras de aço de um alicate. É um espetáculo grandioso e terrível ver os movimentos das massas, que se configuram de maneira cada vez mais uniforme e sobre as quais o espírito do mundo lança a sua rede de arrasto. »

Ernst Jünger. A mobilização total (Ensaio). Tradução e notas de Vicente Sampaio. Natureza Humana 4(1): 189-216, jan.-jun. 2002
O Desenhador de Sóis IV. (Poema de Vida)


A vida irrompe, brota nos teus olhos. O poema é uma coisa que treme, uma coisa quente, fechada entre as mãos, em concha, uma coisa viva que é urgente soltar (Uma nascente de pássaros). As palavras vêm em ondas de fogo. A sua vibração quente e segura. O seu silêncio mágico. Há um canto muito antigo, um nadador que atravessa o sol a nado, os seus braços, de nervo e fogo; vistos a esta luz, (visto sempre de cima) tudo é um poema de vida, como a voz humana, o canto, a dança, os beijos, o sol. Tudo aqui é fogo. Poema de Vida. Batimento. Canto. Sopro. Somos intermináveis. Intermináveis e belos. Sabemos, como toda a nascente, o nosso caminho. Sabemos com o coração, que não param nunca de se misturarem as águas, que elas cruzam os seus fogos, que nos dão as coisas pequenas, o milagre das coisas pequenas, (os grãos de areia, os poemas de amor). Não esquecer essa força primeira: (O silêncio do abraço mais puro, o coração das árvores antigas). Viver é um movimento de liberdade nunca acabado. Viver é um canto do fogo. Os poemas vêm com as suas ondas. O seu sopro quente. O seu sopro primeiro. (Nascente) Só ver a vida como poema de vida. Impessoal. Quente. Honesta. Ela ganha sempre. Duas meninas arménias dão as mãos numa praia de luz. As ondas e a sua música. O coração e as células em dança. O fogo. O seu silêncio mineral. A nossa terra treme à passagem de tantos colossos, há um canto das montanhas, há um canto dos desertos, o mar noturno também canta, cantam e riem os olhos, as mãos, os braços, pernas entrelaçados. As fontes cantam. Os rios cantam. No fundo tudo isto pode ser um símbolo da nossa esperança. Tudo isto é um símbolo da nossa esperança, (Um só símbolo para a vida). Único, Primordial, Eterno. Nadamos juntos em direção à nascente de tudo, a corrente segura de um canto Antigo: os braços em bruços. Potentes, Perfeitos: Os Olhos. As Mãos. O Coração... O seu silêncio branco: (Nascente) … (Nascente) ... (Nascente).

Nuno Brito, 28 de Dezembro de 2016.

carreira poética

Cantos para la coral de un hombre solo

Joan Margarit

quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

6 year old Carrie Fisher watching from the wings as her mother Debbie Reynolds performs on stage at the Riviera Hotel in Las Vegas - 1963



«Uma vida de lobo...Nenhuma alegria; enterro-me na lama, sem me poder agarrar; tudo o que apanho está podre...»


Máximo Gorki. Albergue Nocturno. Livros de Bolso Europa América. p. 138

NATACHA

  Mas...ir contigo para quê? Para te amar?...Francamente, não te amo assim muito, muito. Às vezes parece que me agradas...Outras, só de te olhar me revolto...Sem dúvida que não te amo...Quando se ama verdadeiramente, não se vêem os defeitos do amado...E eu vejo-os bem...



Máximo Gorki. Albergue Nocturno. Livros de Bolso Europa América. p. 137

sou-o




«Só sinto uma coisa: é preciso viver doutra maneira...Melhor: é preciso viver...de maneira que um homem se possa estimar a si próprio...»



Máximo Gorki. Albergue Nocturno. Livros de Bolso Europa América. p. 136

NATACHA

Não pôde suportar a verdade, quando lhe tiraram a ilusão.



Máximo Gorki. Albergue Nocturno. Livros de Bolso Europa América. p. 134

«Tu dizes: a verdade...Mas isso nem sempre é remédio para todos os sofrimentos...A alma nem sempre se cura com a verdade...»


Máximo Gorki. Albergue Nocturno. Livros de Bolso Europa América. p. 131

«Todos têm as almas um pouco escuras...»


Máximo Gorki. Albergue Nocturno. Livros de Bolso Europa América. p. 126

Nathan Lerner, Kiyoko and Curtain, Canada, 1983


Escritora Teolinda Gersão conquista prémio literário Vergílio Ferreira 2017
«Ruy Belo é o grande rio do Tempo, Herberto Helder é omnifágico, o grande devorador das experiências humanas. Cesariny é o grande destruidor dos lugares comuns. E hoje, nesta atmosfera opressiva em que vivemos, é preciso mais e mais irreverência. É preciso não esquecer que dentro do grande estômago deste mundo do consumo tudo cabe. Tudo está na iminência de ser digerido e desaparecer.»

João Barrento (em entrevista)

Ruy Belo, Mário Cesariny, Herberto Helder

'' três grandes rios da poesia portuguesa'', na opinião de João Barrento

apócrifo


adjetivo


1. não autêntico ou cuja autenticidade não foi provada
2. dizse dos escritos que a Igreja Católica não reconhece como pertencentesao cânone bíblico; não canónico

“baldio de afetos”

Joaquim Manuel Magalhães
«A poesia, como a arte em geral, é sempre a consequência de um tempo e de uma circunstância.»


João Barrento

''novas direções poéticas''

Poetas Sem Qualidades

pop art

“É do silêncio de uma época que a poesia se alimenta”

Eduardo Lourenço


«Criou até uma série de siglas que usa para classificar essa nova “literatura realista” de que fala. Começou com RUST, para Margarida Rebelo Pinto. Que categorias são essas?

RUST significa Realismo Urbano Sentimental Total e criei esta sigla para a Margarida Rebelo Pinto, mas agora também lá colocaria o Valter Hugo Mãe dos últimos romances. Depois Tenho o Realismo Rural Não Total, RRNT, onde coloco o José Luís Peixoto e o Afonso Cruz, que é aquele rural exótico. Tenho ainda o Realismo Fantástico Total, o RFT dos romances do José Rodrigues dos Santos. Mas há outros, a lista seria infindável. Há agora também a moda da violência espetacular de um autor de quem já gostei mas que hoje não acho nada interessante que é o Paulo José Miranda. Na mesma linha li um livro do Valério Romão e achei que apesar de tudo ele tem mais recursos. De entre estes novos e mediáticos escritores o único cuja obra eu considero original é o Gonçalo M. Tavares. É um escritor douto, capaz de abarcar um largo espectro de temas, de formas de linguagem, é imensamente culto e consegue trazer essa cultura para dentro dos seus livros.»

João Barrento
«No seu livro escreve que voltámos a uma ficção conservadora, que “parece estar totalmente refém da linguagem televisiva, do videoclip, e totalmente incapaz de interrogar criticamente a consciência do leitor e o mundo em redor”. Porquê?

A imposição do romance quase como sinónimo de literatura apagando a poesia e o conto, o realismo de cariz conservador e banal, a pobreza da linguagem, são sintomas de um mundo sem memória, onde a cultura, a arte e a literatura se regem por paradigmas economicistas. O único lugar onde ainda existem valores é na Bolsa. A vida das pessoas gira em torno do consumo e das vivências do corpo mas apenas na sua perspetiva hedonista. Logo, o simbólico, a letra, a palavra saem a perder. A tecnologia apaga a palavra. A literatura foi totalmente contaminada pela acumulação de atualidade, de informação, abdicando do espaço da História, da memória. Obriga-nos a um eterno presente onde imperam as imagens.

Sob esses escritores e poetas permanentemente sob os holofotes espreita a perda da capacidade de ler, o enfraquecimento da capacidade de enfrentar e decifrar enigmas, porque toda a sua capacidade simbólica está enfraquecida pelas mensagens dominantes, demasiado ruidosas e demasiado simplistas. Uma das grandes perdas do nosso tempo é essa capacidade imaginante só alcançável através da palavra, de uma imaginação que progride a partir da força da palavra.»

João Barrento (em entrevista)
«A literatura e a poesia são sobretudo um trabalho de estruturação de um olhar sobre o mundo e depois a colocação desse olhar sob a forma de linguagem. Uma linguagem que não se limite a contar factos (isso, lá está, é o que fazem os media) mas que dê a ver o invisível através do visível. Isto não é uma questão de rejeitar o realismo mas sim da forma como se pode dar a ver esse realismo. Não há certamente escritor mais realista que o Beckett e no entanto olhe-se para a linguagem dos livros dele…»


João Barrento

German model Elfi Wildfeuer is wearing a hat by Adele List, c,1950s


Myra

Maria Velho da Costa

autoreferencialidade

grupos do Cartucho

(Joaquim Manuel Magalhães, João Miguel Fernandes Jorge, Helder Moura Pereira, António Franco Alexandre)


«Tenho uma solidão parecida com a tua
Vejo-te ao longe, uma ilha
(dei-te o meu coração) cercada
Pelo mundo, crianças assassinas.
As ondas rebentam contra o paredão
Flutuo em Lisboa num amor sem fim
Na melancolia fria.»


João-Paulo Esteves da Silva
«Tâmaras», Douda Correria, 2016.
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