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domingo, 13 de fevereiro de 2011

«O que não é luz, é Pedra.»


Octavio Paz

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Madrugada

Os lábios e as mãos do vento
o coração da água
um eucalipto
o acampamento das nuvens
a vida que nasce cada dia
a morte que nasce cada vida

Esfrego as pálpebras:
o céu anda na terra.


Octavio Paz. Antologia Poética. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 1984., p.99

Aldeia

As pedras são tempo
O vento
séculos de vento
As árvores são tempo
as pessoas são pedras
O vento
volta-se sobre si mesmo e enterra-se
no dia de pedra

Não há água mas os olhos brilham



Octavio Paz. Antologia Poética. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 1984., p.98

Túmulo de Amir Khusrú

para Margarida e António Gonzalez de Léon

Árvores carregadas de pássaros
sustêm a tarde a pulso.
Arcos e pátios. Entre vermelhos
muros, verde peçonha, um tanque.
Um corredor leva ao santuário:
mendigos, flores, lepra, mármores.

Túmulos, dois nomes, suas histórias:
Nizam Uddin, teólogo andarilho,
Amir Khusrú, língua de papagaio.
O santo e o poeta. Austero.
brota um luzeiro duma cúpula,
evola-se o odor do tanque.

Amir Khusrú, papagaio ou rouxinol:
um e outro em cada instante,
obscura a mágoa, a voz diáfana.
Sílabas, errantes incêndios,
vagabundas arquitecturas:
todo o poema é tempo e arde.




Octavio Paz. Antologia Poética. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 1984., p.83
VI

Falar-te-ei uma linguagem de pedra
(respondes com um monossílabo verde)
Falar-te-ei uma linguagem de neve
(respondes com um leque de abelhas)
Falar-te-ei uma linguagem de água
(respondes com uma canoa de relâmpagos)
Falar-te-ei uma linguagem de sangue
(respondes com uma torre de pássaros



Octavio Paz. Antologia Poética. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 1984., p.72
«Se tu és o sol que se levanta
eu sou o caminho de sangue.»




Octavio Paz. Antologia Poética. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 1984., p.70

sábado, 28 de agosto de 2010

Pedras soltas

7. Paisagem

Os insectos atarefados,
os cavalos cor de sol,
os burros cor de nuvem,
as nuvens, rochas enormes que não pesam,
os montes como céus desmoronados,
a manada de árvores bebendo no arroio,
todos estão aí, felizes no seu estar,
frente a nós que não estamos,
comidos pela raiva, pelo ódio,
pelo amor comidos, pela morte.


Octavio Paz. Antologia Poética. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 1984., p.49

Pedras soltas

3. Biografia

Não o que pôde ser:
mas o que foi.
E o que foi está morto.


4. Sinos na noite

Ondas de sombra, ondas de cegueira
sobre uma fronte em chamas:
molhai o meu pensamento, e apagai-o!


6. Visão

Ao fechar os olhos vi-me:
espaço, espaço
onde estou e não estou.


Octavio Paz. Antologia Poética. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 1984., p.47
«os deuses bebem sangue, devoram homens.»



Octavio Paz. Antologia Poética. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 1984., p.47

Lição de coisas

2. Máscara de Tláloc
talhada em quartzo



Água petrificadas.
Dentro, o velho Tláloc dorme,
sonhando tempestades.

4. Deus surgindo
de uma orquídea de barro

Entre as pétalas de argila
nasce, sorridente,
a flor humana.

6. Calendário

Contra a água, dias de fogo.
Contra o fogo, dias de água.

9.Criança e o pião

De cada vez que o joga
cai, exacto,
no centro do mundo.



Octavio Paz. Antologia Poética. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 1984., p.43

Pedra-de-toque

Aparece
Ajuda-me a existir
Oh inexistente pela qual existo
Oh pressentida que me pressente
Sonhada que me sonha
Aparecida desvanecida
Vem via ascende desperta
Rompe diques avança
Moita de brancuras
Maré de armas brancas
Mar sem freio galopando na noite
Estrela guiada
Esplendor que te cravas no peito
(Canta ferida fecha-te boca)
Aparece
Folha em branco tatuada de outono
Formoso astro de ondulados movimentos de tigre
Vagaroso relâmpago
Fincada águia estremecida
Cai pluma flecha engalanada cai
Faz soar a hora do encontro
Relógio de sangue
Pedra-de-toque desta vida


Octavio Paz. Antologia Poética. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 1984., p.42

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Destino de Poeta

Palavras? Sim, de ar,
e no ar perdidas.
Deixa-me perder entre palavras,
deixa-me ser o ar nuns lábios,
um sopro vagabundo sem contornos
que o ar desvanece.

Também a luz em si mesma se perde.


Octavio Paz. Antologia Poética. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 1984., p.19

Lago

Tout pour l'oeil, rien pour les oreilles
Ch. B

Entre áridas montanhas
as águas prisioneiras
repousam, cintilam
como um céu caído.

Nada senão os montes
e a luz entre as brumas;
água e céu repousam,
peito a peito, infinitos.

Como o dedo que afaga
uns seios, um ventre,
estremece as águas,
delgado, um frio sopro.

Vibra o silêncio, bafo
de pressentida música,
invisível ao ouvido,
apenas para os olhos.


Octavio Paz. Antologia Poética. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 1984., p.17

Teu nome

Nasce de mim, de minha sombra,
amanhece em minha pele,
aurora de luz sonolenta.

Pomba brava teu nome,
tímida sobre o meu ombro.


Octavio Paz. Antologia Poética. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 1984., p.15
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