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quinta-feira, 21 de março de 2013




«     Senhora do sangue do meu altar
Sangue do sacrifício no monte sagrado
O do nosso filho - o sangue do cordeiro - corre no monte
                                                sagrado:
              sangue do teu ventre...sangue do sacrifício...!»


Turcsány Péter.Novíssima Poesia Húngara. Tradução de Ernesto José Rodrigues. Bico d'Obra,.p. 63


«depois de vós, não é permitido ter frio.»



Tóth Erzsébet.Novíssima Poesia Húngara. Tradução de Ernesto José Rodrigues. Bico d'Obra,.p. 61

COMO SE



meia-noite no quarto a luz pisca
abro esta janela para mim
o sonho bruxuleia quase extinto
faço como se não tivesse frio

faço tudo como se fosse amanhã
porquê acreditar quando se discursa
porquê acreditar que aqui agora é Verão
a palavra esquarteja-se na minha boca

juntam-se estorninhos por cima de mim
-céus o que eu também estou a dizer -
só aranha caça moscas de Outono
será que alcanço uma morte digna


1974


Pátkai Tivadar.Novíssima Poesia Húngara. Tradução de Ernesto José Rodrigues. Bico d'Obra,.p. 47

quarta-feira, 9 de março de 2011

POEMA SIMPLES

Quando, à nossa volta, já tudo escurece, e lilás se rasga o céu, então
                                                            [gostaria de ver os teus olhos.
Quando te olho, só vejo teus olhos, e gostaria de beijar tuas mãos,
                                                                                [com audácia.
Gostaria de beijar-te, e quando estou ao Teu lado, sei que não
                                                                    [beijarei tuas mãos.


József Attila in Antologia da Poesia Húngara. Selecção e tradução de Ernesto Rodrigues. Âncora, Lisboa, 2002., p. 179

VELA INCLINADA

 Estala, vira-se o leme, a longa
       verga,
ceifa quase a onda,
        e a barca larga!

Mastro e vela, vê,
lança-se quando
vitoriosa? Quando se
      inclina ao mais profundo.



Illyés Gyula in Antologia da Poesia Húngara. Selecção e tradução de Ernesto Rodrigues. Âncora, Lisboa, 2002., p. 175

terça-feira, 8 de março de 2011

Entre flores no chão deitar-nos e
queres, queres brincar à morte?


Kosztolányi Dezső in Antologia da Poesia Húngara. Selecção e tradução de Ernesto Rodrigues. Âncora, Lisboa, 2002., p. 154

ENTRE CAIXÃO E BERÇO

Mãe, quando, um dia, eu voltar de vez,
fico aqui contigo para sempre.
Quando abraçar a velha soleira
e beijar as santas árvores de antigamente
e, cansado, em lágrimas tremendo,
teus olhos olhar.

Espera, então, por mim, que uma noite virei.

Será Outono, sei, luz púrpura ziguezagueia,
fulva luz noctura.
A grande porta de ferro, troando, há-de fechar-se de tal modo,
que a velha casa, fria, tremerá
de medo.

Mas tu não receies, vem ao meu encontro, suavemente,
por mais medonho e branco que seja,
aperta-me nos teus braços, não busques o coração,
que inunda o sangue feio e preto,
olha só para os meus olhos dormentes e baços,
acaricia-me a cabeça, em silêncio.
Eu nem sequer te contarei como vivi
entre beijos ulcerados, na noite clara,
olhar-te-ei somente, como no passado,
então, compreenderei que tu és o início
e tu és o fim.
Mudo, deitar-me-ei na grande cama branca,
eu, velho bebé que falar não sabe,
e do coração aos lábios sobe, vibrante,
a ida melancolia da minha vida.
Tu escutas, como quem vela junto a um berço,
eu devaneio, sorrindo, triste,
e, hesitando entre caixão e berço,
fias minha branca coroa de flores.

Passou quase a noite, em repetidos suspiros;
curando, franze teu abençoado sorriso;
e, em lágrimas, com flores e uma canção muito antiga,
cantas a morte do teu pobre filho.


1907



Kosztolányi Dezső in Antologia da Poesia Húngara. Selecção e tradução de Ernesto Rodrigues. Âncora, Lisboa, 2002., p. 153

segunda-feira, 7 de março de 2011

(...)

«Tu conheces o fio da lâmina, o sabor do sangue,
           os minutos de tensão,
os espasmos da traqueia lacerada, e a luta
           e terror de sufocar.
Ajuda-me! Tu já sabes tudo, tudo passaste,
           adulto sábio! Tu sabes bem
quanto sofrimento suporta o homem, que nem é muito
           para a bondade de Deus,
e o que vale a vida...E, talvez, que nem é
uma coisa assim tão grande a morte.»



Verão de 1937



Babits Mihály in Antologia da Poesia Húngara. Selecção e tradução de Ernesto Rodrigues. Âncora, Lisboa, 2002., p. 150

PERGUNTAS DA NOITE

Quando a noite, esta manta branda,
negra, lisa manta de veludo
que estende uma gigantesca ama,
lentamente cobre a terra resguardada,
e tão cuidadosamente, que cada fio de erva
fique, direito, sob doce véu
e não curve a pétala das flores
e as duplas asas subtis das bordadas borboletas
não percam o esmalte de arco-íris
e assim descansem na sombra velada,
leve, liso, aveludado véu,
esse véu de quem nem sentem o peso:
então, por onde andes, no vasto mundo,
ou estejas em casa, sentado no quarto escuro e triste,
ou vejas, no café, admirado,
que acendem, um após outro, candeeiros de gás de luz solar;
ou, cansado, com teu cão na falda da colina
observes a preguiçosa lua entre as frondas;
ou pela estrada, que levantou pó,
teu cocheiro ensonado, cabeceando, te conduza;
ou tenhas vertigens no chão vacilante
do navio, ou no assento do comboio;
ou, errando através de uma cidade estrangeira,
pares nas esquinas para admirar, tranquilo,
o longo fio de ruas longínquas,
a dupla linha de ruas em chamas;
ou até em cidade aquática, no Riva,
onde um espelho opalino, estragado, pontilha chamas,
tenhas saudades do passado longínquo regressando,
cuja recordação docemente te tortura,
tempo ido que, qual imagem da
lâmpada encantada, está presente, mas não existe,
cuja recordação nunca pode ser fria,
cuja recordação é um peso, mas também um tesouro;
aí, tua espada cabeça de recordações
no chão de mármore possas inclinar:
entre puras belezas e em prazeres andando,
irás só ainda pensar, cobarde:
toda esta beleza para quê?
irás ainda pensar, órfão:
para quê a água de seda, o mármore multicolor?
para quê a noite, alada manta?
porquê as colinas e porquê as frondas,
e o mar, que ninguém semeia?
para quê os fluxos, para quê os refluxos,
e as nuvens, essas tristes Danaides,
e o sol, essa pedra de Sísifo escaldante?
para quê as recordações, para quê os passados?
porquê as lâmpadas e porquê as luas?
porque é que o tempo não mata o seu fim?
Ou toma exemplo do minúsculo fio de erva:
porque cresce a erva, se há-de secar?
porque seca, se cresce de novo?


Primavera de 1909



Babits Mihály in Antologia da Poesia Húngara. Selecção e tradução de Ernesto Rodrigues. Âncora, Lisboa, 2002., p. 144/5
«No alto, vermelho, heróico, nupcial
leito, de revoluções virgens éramos.
Mas, sob a pele, queima, ardente, já nosso
sangue, triste e pesado até aqui.
Faz silêncio, qual se não tremêssemos,
e precipitamo-nos prà revolução.»


Ady Endre in Antologia da Poesia Húngara. Selecção e tradução de Ernesto Rodrigues. Âncora, Lisboa, 2002., p. 135

domingo, 6 de março de 2011

(...)

púrpura sobre o Diabo antigo.
Crucifixo, duas velas, dor.
Grande e sem fim triste torneio.
e o vinho espalha-se na mesa.



Ady Endre in Antologia da Poesia Húngara. Selecção e tradução de Ernesto Rodrigues. Âncora, Lisboa, 2002., p. 120

sábado, 5 de março de 2011

«Sentado, batem ondas, vento frio,
nas águas da Babilónia, sombrias.»


Ady Endre in Antologia da Poesia Húngara. Selecção e tradução de Ernesto Rodrigues. Âncora, Lisboa, 2002., p. 118

O POETA DO HORTOBÁGY

Era um rapaz de olhos grandes, sangue
cumano, ferido de tristes quereres:
a manada guardava e corria
através do célebre Hortobágy húngaro.

Crepúsculos e miragens cem vezes
a alma lhe tomaram; se uma flor,
porém, no coração lhe crescia,
nele pastava manada de povos.

Mil vezes pensou em maravilhas,
pensou na morte, em vinho, mulheres;
em qualquer outro sítio do mundo
teriam feito dele cantor sacro.

Mas se olhava os companheiros, sujos,
tolos, calças largas, e a manada,
logo enterrava sua canção:
e praguejava ou assobiava.



Ady Endre in Antologia da Poesia Húngara. Selecção e tradução de Ernesto Rodrigues. Âncora, Lisboa, 2002., p. 106

NÚPCIAS DE FALCÕES NA FOLHAGEM

Partimos. Vamos para o Outono,
uivando, chorando, perseguindo-nos,
dois falcões de asas desfalecidas.

Traz novos ladrões consigo Verão,
batem asas novas de falcão,
assanham-se combates de beijos.

Voamos do Verão, acossados voamos,
paramos, algures, no Outono,
penas eriçadas, com amor.

Estas as nossas últimas núpcias:
laceramos a carne um ao outro
e caímos nas folhas de Outono.



Ady Endre in Antologia da Poesia Húngara. Selecção e tradução de Ernesto Rodrigues. Âncora, Lisboa, 2002., p. 105

domingo, 27 de fevereiro de 2011

FALA COM AS ÁRVORES O TRISTE VENTO DE OUTONO...

Fala com as árvores o triste vento
de Outono, fala baixo, não se ouve;
que lhes dirá? Ao seu discurso, movem
as árvores, sonhando, a cabeça.
É a meio da tarde; confortável,
estendo-me na largura do sofá...
A cabeça deitada no meu peito,
dorme fundo, calma, minha mulher.

Manso, numa mão, ondeia o seio
da minha doce e bela adormecida;
na outra, meu livro de orações: a
história das lutas de libertação.
Quais cometas, cavalgam suas letras
através da minha alma exaltada...
A cabeça deitada no meu peito,
dorme fundo, calma, minha mulher.

Ouro te seduz e o chicote bate,
se lutas pelo tirano, povo escravo;
e a liberdade? Um só sorriso,
e quem crê corre ao campo da batalha,
e aceita, como flor de moça linda,
golpes, morte, perdidamente alegre...
A cabeça deitada no meu peito,
dorme fundo, calma, minha mulher.

Quantas vidas queridas por ti caíram
já, ó santa liberdade! E qual
a utilidade? Mas ver-se-á
tua vitória na luta final,
e teus mortos também irás vingar,
e tua vingança será terrível!...
A cabeça deitada no meu peito,
dorme fundo, calma, minha mulher.


Koltó, Setembro de 1847



Sándor Petőfi in Antologia da Poesia Húngara. Selecção e tradução de Ernesto Rodrigues. Âncora, Lisboa, 2002., p. 92
«Trago no coração chama, celeste
chama, que as gotas do sangue aquece,»

...

«Oh, pudesse dizê-lo, não só com
palavras vazias, mas também obras.»



Sándor Petőfi in Antologia da Poesia Húngara. Selecção e tradução de Ernesto Rodrigues. Âncora, Lisboa, 2002., p. 86

AQUI ESTOU, NO MEIO DA PLANURA...

Aqui estou, no meio da planura,
como estátua, imóvel.
Cobre o deserto silêncio sepulcral,
qual sudário cobre o morto.
Ao longe, um homem ceifa;
pára agora mesmo,
e afia a foice...
A lâmina não se ouve,
vejo somente como a mão se move.
E olha, agora,
comigo se admira, mas eu nem pestanejo.
Que pensará que eu penso acerca dele?


Szalkszentmárton, antes de 10 de Março de 1846




Sándor Petőfi in Antologia da Poesia Húngara. Selecção e tradução de Ernesto Rodrigues. Âncora, Lisboa, 2002., p. 84

sábado, 26 de fevereiro de 2011

QUEM SOU EU?
AH, NÃO, NÃO DIGO...

Quem sou eu? Ah, não, não digo;
se digo, sou conhecido.
E, se me conhecem mesmo,
vou à forca, pelo menos.

Não tenho machado à mão,
se tiver de ser brigão;
pasta longe meu cavalo,
nem fugir, se necessário.

E para quê tanta pressa,
quando me pesa a cabeça?
E não só, e o coração -
vinho e mulher falsos são.

Se, ao largar a rameira,
cozo eu a bebedeira,
e me vão alferes ao pêlo -
quem eu sou hei-de dizê-lo!


Bratislava, Maio de 1843


Sándor Petőfi in Antologia da Poesia Húngara. Selecção e tradução de Ernesto Rodrigues. Âncora, Lisboa, 2002., p. 77

Amor Feliz [Canção 35]

Davam já cortes finais,
na mata, lestos ceifeiros;
ao comprido, colossais,
caíam sombras, à beira;
parámos de vez em quando
na erva alta do prado;
e a ponte atravessando
do rio ao nosso lado,
olhar à água desceu:
nela, em cima, o céu,
também dentro; ardeu logo,
nos corações, santo fogo.


Kisfaludi Sándor  in Antologia da Poesia Húngara. Selecção e tradução de Ernesto Rodrigues. Âncora, Lisboa, 2002., p. 55

A Lúcia

Porque, Lúcia, me desprezas e rejeitas?
Nunca, lembro, a rapariga alguma
(assim vivo, e passo bem) houve que eu não contentasse;
se, porventura, recusas acreditar,
posso provar-to com testemunhos de peso.


Janus Pannonius na Antologia da Poesia Húngara. Selecção e tradução de Ernesto Rodrigues. Âncora, Lisboa, 2002., p.31
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