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segunda-feira, 10 de maio de 2010

«Se ao menos eu tivesse tido tempo! Mas já não tinha. E agora já nada havia para roubar! Que bom seria estar numa prisão aconchegada, dizia para comigo, onde as balas não passam! Onde nunca passam! Eu conhecia uma pronta a servir, ao sol, ao calor! Como num sonho, a de Saint-Germain precisamente, tão perto da floresta, eu conhecia-a bem, antigamente passava muitas vezes por lá. Como nós mudamos! Nessa altura eu era uma criança e fazia-me medo, a prisão. É que ainda não conhecia os homens. Nunca mais vou acreditar no que eles dizem, no que eles pensam. Dos homens e só dos homens devemos ter sempre medo. »


Louis-Ferdinand Céline.Viagem ao fim da noite. Trad., apresentação e notas de Aníbal Fernandes. Ulisseia, 2010., p.28
«Há bastantes maneiras de sermos condenados à morte.»




Louis-Ferdinand Céline.Viagem ao fim da noite. Trad., apresentação e notas de Aníbal Fernandes. Ulisseia, 2010., p.28

quinta-feira, 6 de maio de 2010

«Numa história destas não há nada a fazer, só pormo-nos a cavar», dizia a mim próprio, apesar disso...
Por cima das nossas cabeças, a dois milímetros, talvez a um milímetro das têmporas, um após outro vinham vibrar esses longos fios de aço traçados pelas balas que nos queriam matar no ar quente do Verão. Nunca eu me sentira tão inútil por entre essas balas todas e as luzes daquele sol. Uma imensa, uma universal zombaria.




Louis-Ferdinand Céline.Viagem ao fim da noite. Trad., apresentação e notas de Aníbal Fernandes. Ulisseia, 2010., p.25

domingo, 28 de março de 2010

«O primeiro pormenor que me despertou a atenção, quando avançava lentamente por uma clareira do bosque, foi um enorme besouro a debater-se de pernas para o ar, o que me levou a pousar um joelho no chão para ajudar o pobrezinho a voltar de novo à sua posição normal. De certo modo, sabe que não pode ter a certeza daquilo que um insecto deseja; por exemplo, eu nunca fui totalmente capaz de determinar, caso fosse uma borboleta nocturna, se preferia que me afastassem da candeia ou me deixassem voar directamente para ela e queimar-me... ou então, se fosse uma aranha, não sei bem se ficaria muito satisfeito ao ver a minha teia destruída e a mosca em liberdade... Mas tenho a certeza de que, se fosse um besouro que tivesse rolado e ficado de costas, sentir-me-ia feliz quando me ajudassem a endireitar.»



Lewis Carroll in Sylvie e Bruno. Trad. de Maria de Lourdes Guimarães. Prefácio de Fernando Guimarães. Relógio D'Água Editores, 2003., pp.157
«Em primeiro lugar, quero saber - meu querido e tão jovem leitor - por que razão as Fadas têm sempre de nos estar a ensinar o nosso dever e de nos censurar quando erramos, e nós nunca lhes ensinamos coisa alguma?Não me quer convencer que as Fadas nunca são ambiciosas, egoístas, falsas, mal-humoradas, porque isso seria um disparate, como sabe. Bem, não acha que se sentiriam melhor se se lhes ralhasse ou fossem castigadas de vez em quando?
Na verdade não vejo por que não se há-de experimentar e tenho quase a certeza que se pelo menos conseguisse agarrar uma Fada, -la a um canto e dar-lhe só pão e água durante um dia ou dois, descobriria nelas um melhor carácter - pelo menos, deitar-lhe-ia abaixo um pouco da sua vaidade.»


Lewis Carroll in Sylvie e Bruno. Trad. de Maria de Lourdes Guimarães. Prefácio de Fernando Guimarães. Relógio D'Água Editores, 2003., pp.156

domingo, 21 de março de 2010

Viajar é muito útil, faz trabalhar a
imaginação. O resto não passa de
decepções e fadigas. A nossa viagem é
inteiramente imaginária. Daí a sua
força.

Vai da vida até à morte. Homens,
animais, cidades e coisas, é tudo
imaginado. Um romance, apenas uma
história fictícia. Di-lo Littré, que nunca
se engana.

Aliás, à primeira vista todos podem
fazer o mesmo. Basta fechar os olhos.

É do outro lado da vida.


Louis-Ferdinand Céline in Viagem ao fim da noite. Trad., apresentação e notas de Aníbal Fernandes. Ulisseia, 2010.
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