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sábado, 8 de abril de 2017

"Não há - nem mesmo tu - quem te perdoe a beleza. Não há - e mesmo tu - quem faça mais do que desatar a rir-se perante as indeslindáveis maldições que te oprimem. Não serão mais, dentro em breve, do que a memória da tua beleza. Dela restará o canto, depois o canto deste poema de onde desertas, e talvez mais longe esta ideia de miséria infinita. Trabalha. Manifesta com brilho o que o mundo em ti já condenou, e não os astros. Concede à puta a mais fria aparência. Extraídos da tua vergonha, os mais selvagens adornos terrestres vão enfeitar-te o ser. Mas quem, mas qual demónio - ou tu - se obstina em fazer-te soçobrar?"


Jean Genet. "No Sentido da Noite"

domingo, 19 de fevereiro de 2017

domingo, 11 de setembro de 2011

O ESCRAVO

Esforçamo-nos por apodrecer de pé. E isso nem sempre é fácil, acreditai. A vida muitas vezes tenta levar a melhor...Mas nós resistimos. E vamos diminuindo um pouco mais em cada...

ROGER

Dia?



Jean Genet. A Varanda. Tradução de Armando da Silva Carvalho.Colecção Presença/Nova Série, Lisboa, 1976., p. 258
ROGER, para o Escravo

E a ti, quem é que te canta?

O ESCRAVO

Ninguém. Limito-me a morrer.

ROGER

Mas sem mim, sem o meu suor, sem as minhas lágrimas, sem o meu sangue, o que serias tu?

O ESCRAVO

Nada.




Jean Genet. A Varanda. Tradução de Armando da Silva Carvalho.Colecção Presença/Nova Série, Lisboa, 1976., p. 257/8

sábado, 10 de setembro de 2011

O ENVIADO

  Tudo o que de belo existe no mundo deve-se às máscaras.



Jean Genet. A Varanda. Tradução de Armando da Silva Carvalho.Colecção Presença/Nova Série, Lisboa, 1976., p. 194
ROGER, com violência

Não te fui roubar para te transformares num licórnio ou numa águia de duas cabeças.


CHANTAL

Não gostas de licórnios?

ROGER

Nunca soube fazer amor com eles. (Acaricia-a.) Nem contigo, aliás.

CHANTAL

Queres tu dizer que não sei amar. Que te desaponto. Mas eu gosto de ti, Roger. E tu alugaste-me a troco de cem vivandeiras.

ROGER

Perdoa-me, Chantal. Fui obrigado a isso. Também eu te amo. Amo-te e não to sei dizer, e não sei cantar. E o último recurso é ainda cantar.



Jean Genet. A Varanda. Tradução de Armando da Silva Carvalho.Colecção Presença/Nova Série, Lisboa, 1976., p. 163/4
O CHEFE DA POLÍCIA

E hoje, lamentas esses momentos?



IRMA, com ternura

Daria o meu reino pelo regresso de um deles! E tu bem sabes qual é. Preciso duma palavra de verdade, uma que seja, como quando à noite a gente observa as rugas que tem na cara, ou limpa a boca...


O CHEFE DA POLÍCIA

É tarde demais. (Pausa.) E além disso, não podíamos continuar toda a vida abraçados um ao outro. Enfim, não sabes em que é que eu pensava, secretamente, quando estava nos teus braços.


IRMA

Sei é que te amava...





Jean Genet. A Varanda. Tradução de Armando da Silva Carvalho.Colecção Presença/Nova Série, Lisboa, 1976., p. 148

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

«Daqui a pouco, quando as trombetas soarem, desceremos os dois - eu montado em ti - para a glória e para a morte, sim, porque eu vou morrer. Trata-se, na verdade, duma autêntica descida ao túmulo.»



Jean Genet. A Varanda. Tradução de Armando da Silva Carvalho.Colecção Presença/Nova Série, Lisboa, 1976., p. 73
A RAPARIGA

O pé esquerdo continua inchado!

O GENERAL

Claro. É o pé da partida. É o pé que bate e que aperreia. Como esse teu cascozinho, quando fazes as vénias.

A RAPARIGA

Quando faço o quê? Vamos, desabotoe-se.

O GENERAL

És um cavalo ou uma ignorante? Se és um cavalo, então sabes fazer as vénias. Ajuda-me. Puxa devagar. Vá, devagarinho, não és nenhum cavalo de lavoura.

A RAPARIGA

Faço o que devo fazer.

O GENERAL

Já estás a revoltar-te? Espera que eu esteja pronto. Quanto te meter o freio nos dentes...

A RAPARIGA

Oh, não! Isso não.

O GENERAL

Era o que faltava! Um general a ser chamado à ordem pelo seu próprio cavalo! Sim senhor. Terás o freio, as rédeas, os arreios, a cilha e só então, de botas, chibatada e chapéu, te saltarei em cima!

A RAPARIGA

É horrível, o freio. Fico com as gengivas a sangrar e os lábios todos gretados. E depois, babo sangue.


O GENERAL

Ah! a espuma cor de rosa e o crepitar do fogo! Que cavalgadas! Entre campos de centeio, no meio da luzerna, atravessando prados, caminhos poeirentos, por montes e vales, deitados ou de pé, da aurora ao sol- pôr, do sol-pôr...





Jean Genet. A Varanda. Tradução de Armando da Silva Carvalho.Colecção Presença/Nova Série, Lisboa, 1976., p. 66-68
O JUIZ

Seria uma coisa horrível. Mas não, você não ousaria um tal volte-face! Não posso acreditar! Ouve bem o que eu te digo: continua a dissimular, a fingir, o mais que puderes e os meus nervos suportarem. Continua a negar, a negar sempre, para me obrigares a sofrer, a bater com os pés no chão, a escumar de raiva, a suar, a ganir de impaciência, a rastejar...Queres que rasteje?

O CARRASCO, para o Juiz

Rasteje!


O JUIZ

Como me sinto orgulhoso!


O CARRASCO, ameaçador

Rasteje!


      O Juiz, que estava de joelhos, deita-se de barriga
      para baixo e rasteja lentamente em direcção à Ladra.
      À medida que vai avançando a Ladra recua.

Isso. Continue.


O JUIZ, para a Ladra

Que me obrigues a rastejar depois de eu ser juiz, está bem, minha marota! Mas se te recusasses definitivamente ao teu papel, isso seria um crime, minha cabra!...

A LADRA, altiva

Chame-me minha senhora e seja mais educado!

O JUIZ

E terei o que pretendo?

A Ladra, galante

Roubar, não é fácil, sabe!...

O JUIZ

Mas eu pago! Pago o que for preciso, minha senhora. Se deixasse de poder separar o Bem do Mal, para que serviria eu, diga-me, para que serviria?

A LADRA

Isso pergunto eu a mim própria.




Jean Genet. A Varanda. Tradução de Armando da Silva Carvalho.Colecção Presença/Nova Série, Lisboa, 1976., p. 52-54

O JUIZ

Como tu és belo! E quando vês uma nova vítima ainda ficas melhor. (Abre a boca do Carrasco.) Mostra-me essas presas! Terríveis. Brancas.


Jean Genet. A Varanda. Tradução de Armando da Silva Carvalho.Colecção Presença/Nova Série, Lisboa, 1976., p. 47

Por isso me sinto morto.

A LADRA

Roubei pão, porque tinha fome.

O JUIZ, erguendo-se e largando o livro

Sublime! Função sublime! Tudo isso vai ser julgado por mim. Oh, minha querida filha, só tu me consegues reconciliar com o mundo. Juiz! Vou ser juiz de todos os teus actos! De mim vai depender a medida, o equilíbrio. O mundo é uma maçã para eu cortar ao meio: os bons, os maus. E tu, meu Deus, tu aceitas ser a parte má! (Para o público.) Debaixo dos vossos olhos: nada nas mãos, nada nos bolsos, explicar o podre e deitá-lo fora. Mas que ocupação dolorosa! Se todos os julgamentos fossem feitos a sério, custar-me-iam a vida! Por isso me sinto morto. Habito esta região da liberdade exacta. Rei dos Infernos, todos os que eu julgo, estão como eu: mortos. Esta está como eu: morta.
Jean Genet. A Varanda. Tradução de Armando da Silva Carvalho.Colecção Presença/Nova Série, Lisboa, 1976., p. 46
O CARRASCO

(...) Posso fumar?



O JUIZ, num tom natural

Fuma, fuma. O cheiro do tabaco dá-me inspiração.
 
 
 
 
Jean Genet. A Varanda. Tradução de Armando da Silva Carvalho.Colecção Presença/Nova Série, Lisboa, 1976., p. 42

terça-feira, 6 de setembro de 2011

IRMA, cuidadosa



«Há sangue por toda a parte...

(...)
                                                                         Ouve-se, no mesmo instante,
                                                                   um grande grito de dor, lançado
                                                                   por uma mulher que não se vê.»

 
Jean Genet. A Varanda. Tradução de Armando da Silva Carvalho.Colecção Presença/Nova Série, Lisboa, 1976., p.20/1

Quando a sorte está decidida...

Jean Genet. A Varanda. Tradução de Armando da Silva Carvalho.Colecção Presença/Nova Série, Lisboa, 1976., p.19

As actrizes

«As actrizes não devem substituir as palavras do texto por outras mais suaves. Podem muito bem recusar-se a representar a minha peça - serão substituídas por homens. Se não querem dizer o meu texto, ao menos digam as palavras ao contrário.»



Jean Genet. A Varanda. Tradução de Armando da Silva Carvalho.Colecção Presença/Nova Série, Lisboa, 1976.,
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