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segunda-feira, 28 de setembro de 2020

 17 – Como mulher hoje, o que lhe ocorre dizer de mais importante sobre os anos 50 em Lisboa ao nível da educação feminina? E da mulher intelectual e/ou artista? Gostaria que se referisse à sua experiência pessoal. 

17 – Levei décadas a aperceber-me de que grande parte do meu sofrimento existencial tinha origem na educação que recebera e que essa 15 educação não fora apenas um problema meu, mas o resultado de toda uma conjuntura histórica, de todo um quadro social e sociopolítico. O sofrimento da mulher na família e na sociedade está relacionado como papel (leia-se: valor) que nela lhe é atribuído. Por outras palavras, está relacionado com o grau de independência e afirmação que lhe é concedido. Eu não rejeitei a minha condição de mulher: casei, tive uma filha, quis ter família. Mas o que acima de tudo quis foi ser uma pessoa, ser eu própria. Tive que pagar um alto preço por esta minha singularidade.


 Entrevista a Ana Hatherly

 «– Ser jovem é sempre difícil, mas na sociedade portuguesa dos anos 50 os jovens sofriam ainda muito a repressão da família, reflexo da intolerância social de então. A repressão era a todos os níveis, mas é claro que a repressão sexual era a mais dura de todas.»

ANA HATHERLY 

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Quis redimir-te e tu me receaste.
Quis redimir-me e tu não me mataste.
Partiste em demanda
E deixaste-me tecendo a longa espera
Dum fim que não viria.
Partiste,
E assim me condenaste
A que vivesse."

-"A Dama e o Cavaleiro"
- Ana Hatherly
- Guimarães Editores, 1960 (1a Edição)

quarta-feira, 20 de julho de 2016



"Viver sem amor
É como não ter para onde ir
Em nenhum lugar
Encontrar casa ou mundo
É contemplar o não- acontecer
O lugar onde tudo já não é
Onde tudo se transforma
No recinto
De onde tudo se mudou
Sem amor andamos errantes
De nós mesmos desconhecidos
Descobrimos que nunca se tem ninguém
Além de nós próprios
E nem isso se tem"


"A Neo- Penélope", Ana Hatherly  &etc, 2007 (1a Edição)

terça-feira, 16 de junho de 2015

COSTANT NOW
"Sento-me à porta de casa e penso. o céu onde começa? é imediatamente acima do chão? estamos sempre no céu então?
do outro lado da minha casa passa o rio. um pescador espera paciente enquanto outro se prepara para regressar. deito-me no chão e mergulho a cara na terra."

-"Tisanas"
- Ana Hatherly
- Moraes Editores, 1973 (1a Edição)

domingo, 15 de fevereiro de 2015

NOCTURNOS


"É de noite. Deito-me no chão e penso no meu corpo. Estou no meu corpo a seu lado. Interrogo que queres. Querer é a lei da boca.
Estás de visita meu corpo se agita o que é belo me agride. Uma chuva de dardos reconstrói o misterio que conduz ao êxtase. Nos amantes há sempre esse decisivo terror.
Estou na arcada da velha praça é quase noite. O tráfego está no auge. Estou perto do café que Fernando Pessoa frequentava. Olho e céu e digo parece de papel pardo. Encosto-me a uma das colunas. Penso e repenso o suicídio diário. Estou triste. Não posso amar senão em liberdade."


Ana Hatherly. "Poesia 1958-1978". Moraes Editores, 1980
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