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domingo, 7 de agosto de 2011

     «Um vapor azul subiu ao quarto de Félicité. Ela estendeu as narinas, inalando-o com uma sensualidade mística; depois fechou os olhos. Os lábios sorriam. Os movimentos do coração diminuíram um a um, cada vez mais vagos, mais brandos, como uma fonte que se esgota, como um eco que desaparece; e, quando exalou o seu último suspiro, julgou ver, nos céus entreabertos, um papagaio gigantesco, planando-lhe sobre a cabeça.»




Gustave Flaubert. Um Coração Simples. Tradução de Maria Emanuel Côrte-Real e Júlio Machado. 1ª edição. Edições Quasi, 2008., p. 47
« Estas depravações afligiram-na muito. No mês de Março de 1853, foi tomada por uma dor no peito; a língua parecia coberta de fumo e as sanguessugas não acalmaram a opressão; e à nona noite ela expirou, tendo precisamente setenta e dois anos.
    Julgavam-na mais jovem, por causa dos seus cabelos castanhos, cujos bandós lhe contornavam o rosto pálido com pequenas marcas de varíola. Poucos amigos a lamentaram, as suas maneiras eram de uma altivez que afastava os outros.»



Gustave Flaubert. Um Coração Simples. Tradução de Maria Emanuel Côrte-Real e Júlio Machado. 1ª edição. Edições Quasi, 2008., p. 47

sábado, 6 de agosto de 2011

o mar, ao longe, estendia-se confusamente.

«(...) o mar, ao longe, estendia-se confusamente. Então sentiu uma fraqueza que a fez parar; e a miséria da sua infância, a decepção do primeiro amor, a partida do sobrinho, a morte de Virginie, como as ondas de uma maré, voltaram de uma só vez e, subindo-lhe à garganta, asfixiavam-na.»




Gustave Flaubert. Um Coração Simples. Tradução de Maria Emanuel Côrte-Real e Júlio Machado. 1ª edição. Edições Quasi, 2008., p. 45

Ninguém sabia do que falava.

«Ninguém sabia do que falava. Por fim, regressou, esgotada, com os velhos sapatos em frangalhos e a morte na alma.»



Gustave Flaubert. Um Coração Simples. Tradução de Maria Emanuel Côrte-Real e Júlio Machado. 1ª edição. Edições Quasi, 2008., p. 42

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

«Mas só uma coisa era capaz de a comover, as cartas do filho.»



Gustave Flaubert. Um Coração Simples. Tradução de Maria Emanuel Côrte-Real e Júlio Machado. 1ª edição. Edições Quasi, 2008., p. 36
 «Os prados estavam desertos, o vento agitava o rio; ao fundo, havia grandes plantas sobre ele inclinadas, como cabeleiras de cadáveres a flutuar na água. Ela retinha a sua dor, e até à noite foi muito corajosa; mas assim que chegou ao quarto abandonou-se-lhe, de barriga para baixo no colchão, a cara no travesseiro, e os dois punhos segurando as têmporas.»



Gustave Flaubert. Um Coração Simples. Tradução de Maria Emanuel Côrte-Real e Júlio Machado. 1ª edição. Edições Quasi, 2008., p. 31
    «Por causa dos charutos, ela imaginava Havana como uma terra onde não se fazia outra coisa a não ser fumar, e Victor circulava por entre os pretos numa nuvem de tabaco.»



Gustave Flaubert. Um Coração Simples. Tradução de Maria Emanuel Côrte-Real e Júlio Machado. 1ª edição. Edições Quasi, 2008., p. 30

uma toalha de espuma

« Já não se via ninguém; e, no mar prateado pela Lua, havia uma mancha negra que ia empalidecendo, afundando-se, até desaparecer.»


Gustave Flaubert. Um Coração Simples. Tradução de Maria Emanuel Côrte-Real e Júlio Machado. 1ª edição. Edições Quasi, 2008., p.28
« (...), lia um pouco, e desta forma preenchia o vazio das horas.»


Gustave Flaubert. Um Coração Simples. Tradução de Maria Emanuel Côrte-Real e Júlio Machado. 1ª edição. Edições Quasi, 2008., p.26
      «Em qualquer estação do ano usava um lenço de chita preso nas costas por um alfinete, uma touca que lhe escondia o cabelo, meias cinzentas, saia vermelha e, por cima da sua grande camisa, um avental de peitilho, como as enfermeiras de hospital.
        O seu rosto era magro e a sua voz aguda. Aos vinte e cinco anos, davam-lhe quarenta; a partir dos cinquenta, parecia que a idade não passava mais por ela; e, sempre silenciosa, de porte rectilíneo e gestos comedidos, parecia uma mulher de madeira, a funcionar de forma automática.»


Gustave Flaubert. Um Coração Simples. Tradução de Maria Emanuel Côrte-Real e Júlio Machado. 1ª edição. Edições Quasi, 2008., p.11
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