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domingo, 2 de fevereiro de 2014

sexta-feira, 6 de abril de 2012

As canas


CANTO DÉCIMO TERCEIRO

De criança sempre gostei de canas
 e roubava-as do rio
 ainda verdes.
 Deixava-as depois estendidas ao sol durante todo o verão
 e recolhia-as, ligeiras,
 como o sussurro dos mosquitos.

Quando no inverno
 os ossos estalavam de frio
 e os gatos tossiam sobre o damasqueiro
 corria até ao sótão
 e metia as mãos no meio das canas quentes
 ainda com todo aquele sol em cima.



[in O Mel, de Tonino Guerra, trad. de Mário Rui de Oliveira, Assírio & Alvim, 2004]

quarta-feira, 11 de maio de 2011

AS FOLHAS DA CEREJEIRA

A André Tarkovsky


        Por cima de Casteldeci há uma igreja sem tecto e as paredes têm entre os braços uma cerejeira que cresceu no chão e cujos ramos tocam o céu.
        Em Abril floresce e a brancura desliza da árvore até ao fundo do vale, depois nascem os frutos e comem-nos os melros e os pássaros bravos; entretanto as folhas ficam vermelhas e uma de cada vez caem no chão.
       Se alguém assoma àquelas paredes com o desejo de pedir um milagre e há uma folha que cai nesse momento é sinal de que lá de cima terá uma resposta boa.
        Tarkovsky passou lá em Novembro e precisava de fazer um pedido grande, mas as folhas já tinham caído todas e serviam de cama a duas ovelhas que dormiam.



Tonino Guerra. O Livro Das Igrejas Abandonadas. Tradução José Colaço Barreiros. Introdução de Vicente Jorge Silva. Assírio & Alvim, 1997, p. 45

segunda-feira, 9 de maio de 2011

O Livro das Igrejas Abandonadas

Eu abandono Roma
Os camponeses abandonam a terra
As andorinhas abandonam  a minha aldeia
Os fiéis abandonam as igrejas
Os moleiros abandonam os moinhos
Os montanheses abandonam os montes
A graça de Deus abandona os homens
Alguém abandona tudo



Tonino Guerra. O Livro Das Igrejas Abandonadas. Tradução José Colaço Barreiros. Introdução de Vicente Jorge Silva. Assírio & Alvim, 1997, p. 18
      Como dizia o Italo Calvino, «para Tonino Guerra tudo se transforma em conto e em poesia: de viva voz ou escrito ou nas sequências do cinema, em prosa ou em verso, em italiano ou em dialecto romanholo. Há sempre um conto em cada uma das suas poesias; há sempre uma poesia em cada um dos seus contos. E poesia quer dizer uma experiência precisa e concreta e inesperada, contendo dentro de si um sentimento e com o tom de uma voz que nos fala.»


Tonino Guerra. O Livro Das Igrejas Abandonadas. Tradução José Colaço Barreiros. Introdução de Vicente Jorge Silva. Assírio & Alvim, 1997, p. 15/6
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