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segunda-feira, 10 de março de 2014

Pois o meu outrora delicado] corpo, já a velhice
me arrebatou, e brancos] se tornaram os cabelos, negros que eram.
Pesado o meu coração se tornou, não me suportam já as pernas,
em tempos ligeiras na dança, como pequenas corças.
Isso lamento a toda a hora; mas que fazer?
alguém que não envelhece é algo que não pode existir.

Safo
Imortal Afrodite do trono variegado,
filha de Zeus, urdidora de enganos, suplico-te:
com sofrimentos e angústias não subjugues,
ó rainha, o meu coração
(...)


Vem até mim, agora também! Salva-me da aflitiva
ansiedade; e para mim faz cumprir tudo o que
meu coração deseja ver cumprido; e tu própria
combate a meu lado.

quinta-feira, 6 de março de 2014

SAFO

«Safo ao mar se precipita
Por impulso da paixão,
Vinga em si o alheio crime
Da pérfida ingratidão.»



Catarina de LencastreAntologia da Poesia Feminina Portuguesa - António Salvado., p. 84

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Pois o meu outrora delicado] corpo, já a velhice
me arrebatou, e brancos] se tornaram os cabelos, negros que eram.
Pesado o meu coração se tornou, não me suportam já as pernas,
em tempos ligeiras na dança, como pequenas corças.
Isso lamento a toda a hora; mas que fazer?
alguém que não envelhece é algo que não pode existir.


Safo

sábado, 8 de outubro de 2011

DESEJO DE MORRER

«Hermes veio...

Eu disse-lhe: «Senhor...
não, pela Deusa Feliz,
nunca prezei grandezas:

  o meu desejo
  é morrer. Ver
no orvalho as flores
de luto no lodo longo do Aqueronte!»



Safo. Líricas em Fragmentos. Tradução e apresentação de Pedro Alvim. Edição Bilingue. Vega, 1ª edição, 1991., p. 103

OLVIDO

«Morte, inércia de sono
    para ti, silêncio
de qualquer memória
para sempre: não mais, não,
alcançarás as rosas de Piéria.
   Escura e desatinada,
vaguearás pelo Hades
não mais vista de ninguém,
   sempre às cegas, sempre
     por entre sombras
 de corpos, obscuras
     aparências só.»


Safo. Líricas em Fragmentos. Tradução e apresentação de Pedro Alvim. Edição Bilingue. Vega, 1ª edição, 1991., p. 101

MAÇÃ MENINA

«No alto do ramo,
alta no ramo mais alto,
  uma tão rosa maçã:
esqueceram-na os apanhadores
de fruta. Esqueceram-na?
  Não! Mãos não tiveram
     para a colher.»



Safo. Líricas em Fragmentos. Tradução e apresentação de Pedro Alvim. Edição Bilingue. Vega, 1ª edição, 1991., p. 99

PARA ALÉM DO MAR

«...em Sardis agora vive,
mas a alma encontra-se entre nós.
................................................
   Eras para ela tal uma Deusa,
o teu canto acalmava os seus caprichos.

  Agora, na Lídia, deslumbra entre
      as mulheres. Assim a lua,
       posto o sol, rósea
empalidece as estrelas, inunda, em subido fulgor,
     as águas do mar salgado
     e a planície toda em flor:

um manto luzente de orvalho, viçoso
de rosas, tenras madressilvas e trevos
            perfumados.

    Entre um passo e outro passo,
   Áttis suaviza-lhe a memória:
   liquefaz-lhe o anseio na leve
  urdida do coração. - Embora
       a angústia
com angústia lhe pese.»




Safo. Líricas em Fragmentos. Tradução e apresentação de Pedro Alvim. Edição Bilingue. Vega, 1ª edição, 1991., p. 91

ALÍVIO


«Enfim, cara, vieste - e bem. Com
 ânsia te esperava - e muito. Que
  saibas: em minha alma ascendeste
       um fogo que a devora.»


Safo. Líricas em Fragmentos. Tradução e apresentação de Pedro Alvim. Edição Bilingue. Vega, 1ª edição, 1991., p. 75

DICA

«Coroa-te, Dica, com tuas gráceis mãos!
       Enfeita os aneis do teu cabelo
com funcho, anis, pétalas e corolas.

   Vê que os olhos das Graças
sempre em grinaldas se entrançaram
        de flores muitas

     - e sempre, Dica, se desviam
      de quem não se coroa
             de flores!

Safo. Líricas em Fragmentos. Tradução e apresentação de Pedro Alvim. Edição Bilingue. Vega, 1ª edição, 1991., p. 73

AS POMBAS


   «E o seu coração
       ascende frio,
    e as asas abrandam...»


Safo. Líricas em Fragmentos. Tradução e apresentação de Pedro Alvim. Edição Bilingue. Vega, 1ª edição, 1991., p. 63

ADÓNIS

« - O doce Adónis morreu, Afrodite: que fazer?
        -Flagelai, moças, os vossos seios,
      rasgai, amigas, as vossas vestes.»



Safo. Líricas em Fragmentos. Tradução e apresentação de Pedro Alvim. Edição Bilingue. Vega, 1ª edição, 1991., p. 53

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

ESQUECIMENTO

«De mim te sei esquecida, e não mais
tu me amas: a um outro sim - e mais.»


Safo. Líricas em Fragmentos. Tradução e apresentação de Pedro Alvim. Edição Bilingue. Vega, 1ª edição, 1991., p. 47

VERGONHA

« - Uma coisa te quero dizer,
mas a vergonha mo impede...

-Se em ti habitasse o desejo
    por coisas nobres e belas,
e a tua língua se não embrulhasse no mal,
  já a vergonha não cobriria teus olhos
e límpido falarias sobre os teus sentimentos.»




Safo. Líricas em Fragmentos. Tradução e apresentação de Pedro Alvim. Edição Bilingue. Vega, 1ª edição, 1991., p. 41

VIRGINDADE

« - Virgindade, virgindade! Fugiste de mim para onde?
      - Não mais te verei a ti, a ti não mais voltarei.»



Safo. Líricas em Fragmentos. Tradução e apresentação de Pedro Alvim. Edição Bilingue. Vega, 1ª edição, 1991., p. 39

O BELO E O BOM

     «Quem é belo
     é belo aos olhos
    - e basta.

     Mas quem é bom
    é subitamente belo.»




Safo. Líricas em Fragmentos. Tradução e apresentação de Pedro Alvim. Edição Bilingue. Vega, 1ª edição, 1991., p. 27

MAIS VERDE QUE UMA ERVA



(...)

«O suor me toma, um tremor
me prende. Mais verde sou
do que uma erva - e de mim
não me parece a morte longe...

.................................................


Safo. Líricas em Fragmentos. Tradução e apresentação de Pedro Alvim. Edição Bilingue. Vega, 1ª edição, 1991

domingo, 26 de junho de 2011

CANTOS DE SAFO PARA ÁTIS


Mon Athis n'est pas revenue sur ses pas!...
Safo


I

Espero-a num silêncio de margem
enfeitiçada do rio e da viagem.
E na noite mais densa e mais acesa
onde aranhas de luz tecem um corpo
para a sua alma de princesa.

II

Desfez-se a brisa em meu cabelo agreste
Átis de corpo vegetal
perfumado e silvestre.
Lírio florido na mão que te procura
com delírios nos olhos
mordidos na cintura.

III

Como pombas
seus seios vêm pousar nas minhas mãos.
Estremecem e partem.
Como pombas minhas mãos os perseguem.

IV

Virginal
abandonou-se no meu colo
claro e penetrante como o olhar de Apolo.
Partiu
purificada na alegria
dum corpo que lhe dei.
Fiquei
na estrela que o brilho me copia.
Acesa mas tão fria.

V

Lentos meus gestos desenham o seu rosto
rasgando a escuridão da sua ausência.
E o meu canto enleia-se no gosto
de a cantar em distância e em transparência.


Natália Correia. Poesia Completa. Publicações Dom Quixote, 1ª edição, Lisboa, 1999, p. 87/8

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Ode II

Igual dos deuses esse homem
me parece: diante de ti
sentado, e tão próximo, ouve
a doçura da tua voz,

e o teu riso claro e solto. Pobre
de mim: o coração me bate
de assustado. Num ápice te vejo
e a voz me vai;

a língua paralisa; um arrepio
de fogo, fugaz e fino,
corre-me a carne; enevoados
os olhos; tontos os ouvidos.

O suor me toma, um tremor
me prende. Mais verde sou
do que uma erva – e de mim
não me parece a morte longe…



Alvim, P. tr. Safo de Lesbos. São Paulo: Ars Poética, 1992.
Presumível retrato da poeta grega Safo.
Pintura proveniente de Pompeia. Colecção Roger-Viollet

Semelhante aos deuses me parece
o homem que diante de ti se senta
e, tão doce, a tua voz escuta,

ou amoroso riso – que tanto agita
meu coração de súbito, pois basta ver-te
para que nem atine com o que diga,

ou a língua se me torne inerte.
Um subtil fogo me arrepia a pele,
deixam de ver meus olhos, zunem meus ouvidos,

o suor inunda-me o corpo de frio,
e tremendo toda, mais verde que as ervas,
julgo que a morte não pode já tardar.


Eugénio de Andrade. Poemas e Fragmentos de Safo. Porto, Limiar, 1974
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