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quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

No pinhal

No pinhal, uma criança corre a tirar a caruma dos púcaros de resina, mergulhando os dedos (e, depois as formigas) nas baças sombras da água.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

4 de Setembro de 1940

No pinheiro são abolidos s suas expansões sucessivas (no pinheiro dos bosques, especialmente) que felizmente corrige, libertando-se da maldição habitualmente sofrida pelos vegetais: ter que viver eternamente com o peso de todos os gestos desde a infância. A essa árvore mais do que a qualquer outra é permitido separar-se dos seus antigos desenvolvimentos. É-lhe permitido esquecer. É verdade que os desenvolvimentos seguintes se assemelham muito aos antigos, caducos. Mas não importa. O prazer está em abolir e recomeçar. E depois é sempre mais acima que isso se passa. Parece que se ganhou qualquer coisa.


Francis Ponge. O Caderno do Pinhal. Trad. Leonor Nazaré. Hiena Editora. Lisboa, 1986., p. 49

3 de Setembro de 1940

Se os indivíduos da orla (orla ou extremidade: termos a verificar no dicionário) ocultam bastante bem o interior dos olhares do exterior, ocultam muito mal o exterior dos olhares do interior. Funcionam como vitrais, ou melhor (porque não são translúcidos) como um vitral de tecido, ou de pedra, ou de madeira esculpida. Quando o bosque é suficientemente vasto ou espesso, do seu interior não se apercebe a faixa lateral de céu, é preciso avançar em direcção à orla, até ao ponto em que a absoluta espessura do bosque se desvanece. Seria sublime consegui-lo dentro de uma catedral: uma floresta de colunas de tal maneira que se chegaria progressivamente à obscuridade total (cripta).
E no entanto é mesmo mais ou menos isso que acontece no bosque, apesar de não haver afinal nenhum muro, de tal forma que o monumento respira por todos os poros em plena natureza, melhor que um pulmão, como brônquios.
Poderia dizer-se mesmo que esse deveria ser o critério de qualquer acabamento, a condição desse tipo de arquitectura: o ponto onde a obscuridade total se realizaria, tendo em conta por exemplo que entre cada coluna deve ser deixado um espaço de tanto, que permita facilmente um passeio a , etc., etc.




Francis Ponge. O Caderno do Pinhal. Trad. Leonor Nazaré. Hiena Editora. Lisboa, 1986., pp.46/7
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