Todas as terras enraízaram seus grandes
medos debaixo dos meus pés
e eles pendem poços-de-corda pesados e velhíssimos
enchendo sempre a transbordar a noite
a palavra mortífera -
Assim não posso eu viver
só na queda -
Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 228
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domingo, 12 de maio de 2013
II
Visões de crepúsculo
Coisas perdidas dos mortos
também nós deixamos
o mais solitário de nós aos recém-nascidos -
Um volta-se
e olha pra o deserto -
a alucinação abre
a parede do ermo solar
onde um par de avós
fala a língua do pó descoberto
longe como voz de búzio sob o selo -
Trememos de frio
e lutamos com o passo próximo
pra o futuro -
Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 225
Coisas perdidas dos mortos
também nós deixamos
o mais solitário de nós aos recém-nascidos -
Um volta-se
e olha pra o deserto -
a alucinação abre
a parede do ermo solar
onde um par de avós
fala a língua do pó descoberto
longe como voz de búzio sob o selo -
Trememos de frio
e lutamos com o passo próximo
pra o futuro -
Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 225
Sempre de novo dilúvio novo
com as letras arrancadas a tormentos
os peixes falando presos ao anzol
para no esqueleto do sal
fazerem legível a ferida -
Sempre de novo aprender a morrer
pela vida velha
Fuga pela porta de ar
pra buscar pecado novo de planetas dormentes
Exercício extremo no velho elemento do respirar
assustado com a nova morte
Pra onde vai a lágrima
Se a Terra desapareceu?
Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 223
«Não fazer nada
visível murchar
As minhas mãos pertencem a um bater de asas roubado
Com elas vou cosendo um buraco
mas elas suspiram junto a este abismo aberto - »
Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 197
visível murchar
As minhas mãos pertencem a um bater de asas roubado
Com elas vou cosendo um buraco
mas elas suspiram junto a este abismo aberto - »
Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 197
«No Norte azul da rosa-dos-ventos
vigilante à noite
já um botão de Morte sobre as pálpebras
caminhando para a fonte -»
Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 192
vigilante à noite
já um botão de Morte sobre as pálpebras
caminhando para a fonte -»
Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 192
Ela dança -
mas com um grande peso -
Porque dança ela com um grande peso?
Ela quer ser inconsolável -
Gemendo vai puxando o seu amado
pelos cabelos da fundura do Oceano
Hábito de inquietação sopra
sobre as traves salvadoras dos seus braços
Um peixe sofredor estrebucha sem fala
com o seu amor -
Mas de repente
pela nuca
o sono dobra-a para diante -
Libertos
são Vida -
são Morte -
Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 184
«Fundo-escuro é a cor da nostalgia sempre
assim a noite toma
de novo de mim posse.»
Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 164
Morte
Cântico do mar
banhando-me o corpo em volta
uva salgada
a atrair sede na minha boca -
Feres as cordas das minhas veias
até que elas cantando rebentam
desabrochando das chagas
pra tocar a música do meu amor -
Os teus horizontes em leque desdobrados
com a coroa dentada do morrer
já posta em volta do teu pescoço
o ritual de partida
com o som regougado da respiração
começado
abandonaste como um sedutor
antes do casamento a vítima enfeitiçada
despida quase já até à areia
expulsa
de dois reinos
já só suspiros
entre noite e noite -
Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 160
Cântico do mar
banhando-me o corpo em volta
uva salgada
a atrair sede na minha boca -
Feres as cordas das minhas veias
até que elas cantando rebentam
desabrochando das chagas
pra tocar a música do meu amor -
Os teus horizontes em leque desdobrados
com a coroa dentada do morrer
já posta em volta do teu pescoço
o ritual de partida
com o som regougado da respiração
começado
abandonaste como um sedutor
antes do casamento a vítima enfeitiçada
despida quase já até à areia
expulsa
de dois reinos
já só suspiros
entre noite e noite -
Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 160
quarta-feira, 1 de maio de 2013
«Um estranho tem sempre
a pátria nos braços
como uma órfã
para a qual talvez nada mais
busque do que uma sepultura.»
Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 155
Caçador
a minha constelação
aponta
a ponto secreto do sangue: desassossego...
e o passo voa sem asilo -
Mas o vento não é uma casa
lambe apenas como os bichos
as feridas do corpo -
Como se há de puxar o tempo
dos fios de ouro do Sol?
Enrolá-lo
pra o casulo da borboleta-da-seda
Noite?
Ó escuridão
estende a tua mensagem
só por um bater de pestanas:
Repouso na fuga.
Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 147
Isto é o hálito escuro
de Sodoma
e a carga
de Nínive
pousada
junto à ferida aberta
da nossa porta.
Isto é a Escrita sagrada
em fuga pela terra
trepando ao céu
com todas as letras,
escondendo a emplumada
ventura num favo de mel.
Isto é o negro Laocoonte
lançando à nossa pálpebra
perfurando milénios
a retorcida árvore da dor
rebentando na nossa pupila.
Isto são dedos inteiriçados em sal
gotejando lágrimas na oração.
Isto é a Sua causa marinha
recolhida
para a cápsula marulhante dos mistérios.
Isto é o nosso refluxo
Constelação da dor
da nossa areia a desfazer-se
Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 145/6
de Sodoma
e a carga
de Nínive
pousada
junto à ferida aberta
da nossa porta.
Isto é a Escrita sagrada
em fuga pela terra
trepando ao céu
com todas as letras,
escondendo a emplumada
ventura num favo de mel.
Isto é o negro Laocoonte
lançando à nossa pálpebra
perfurando milénios
a retorcida árvore da dor
rebentando na nossa pupila.
Isto são dedos inteiriçados em sal
gotejando lágrimas na oração.
Isto é a Sua causa marinha
recolhida
para a cápsula marulhante dos mistérios.
Isto é o nosso refluxo
Constelação da dor
da nossa areia a desfazer-se
Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 145/6
domingo, 28 de abril de 2013
«Em que pegadas
hei-de eu buscar a poesia do teu sangue?»
Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 136
«Prontas a levar na mala o último
peso de melancolia, este casulo de borboleta,
em cujas asas um dia levarão
a viagem ao fim.»
Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 129
''e a pedra dançando transforma
em música o seu pó.''
Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 127
Quem sabe onde as estrelas estão
na ordem da magnificiência do Criador
e onde a paz começa
e se na tragédia da Terra
a guelra rasgada e sangrenta do peixe
está destinada
a completar o seu vermelho-rubi
a constelação Martírio,
a escrever a primeira
letra da língua sem palavras -
Por certo possui o amor olhar
que repassa ossadas como um relâmpago
e acompanha os mortos
para além do alento -
mas onde os rendidos
depõem a sua riqueza,
é desconhecido.
As framboesas traem-se no mais negro bosque
pelo seu perfume,
mas a carga-de-alma deposta dos mortos
não se trai a nenhuma busca -
e bem pode alada
entre cimento ou átomos tremer
ou sempre ali
onde ficou esquecido
um lugar pra o pulsar de um coração.
Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 122/3
«O verdugo
na escuridão carregada de culpa
escondeu o dedo fundo
no cabelo do recém-nascido
que deita rebentos já há anos-luz
pra céus não sonhados.»
Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 120
na escuridão carregada de culpa
escondeu o dedo fundo
no cabelo do recém-nascido
que deita rebentos já há anos-luz
pra céus não sonhados.»
Nelly Sachs. Poesias. Tradução de Paulo Quintela. Editora Opera Mundi, Rio de Janeiro, 1975,. p. 120
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