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sexta-feira, 7 de abril de 2023

 «(...)

E esta loucura, acho-a bela,

De agarrar minh'alma, erguê-la,

E bater!, bater com ela

Nas paredes sem janela

Da prisão que me limita...»


José RégioAs Encruzilhadas de Deus. Edições Presença, Coimbra, 1935., p. 110

terça-feira, 21 de março de 2023

Canção de primavera

 

Eu, dar flor, já não dou. Mas vós, ó flores,

Pois que Maio chegou,
Revesti-o de clâmides de cores!
Que eu, dar, flor, já não dou.

Eu, cantar, já não canto. Mas vós, aves,
Acordai desse azul, calado há tanto,
As infinitas naves!
Que eu, cantar, já não canto.

Eu, invernos e outonos recalcados
Regelaram meu ser neste arrepio...
Aquece tu, ó sol, jardins e prados!
Que eu, é de mim o frio.

Eu, Maio, já não tenho. Mas tu, Maio,
Vem com tua paixão,
Prostrar a terra em cálido desmaio!
Que eu, ter Maio, já não.

Que eu, dar flor, já não dou; cantar, não canto;
Ter sol, não tenho; e amar...
Mas, se não amo,
Como é que, Maio em flor, te chamo tanto,
E não por mim assim te chamo?

domingo, 8 de maio de 2022

''ridículos preâmbulos''

 José Régio. Há mais mundos. Círculo de Leitores, 1973., p. 100

segunda-feira, 25 de abril de 2022

«Todo o literato mais ou menos falhado tem uma invencível necessidade de falar de si e da sua obra; até de dar nas vistas.»

José Régio. Há mais mundos. Círculo de Leitores, 1973., p. 76

segunda-feira, 18 de abril de 2022

'' dos silêncios do céu''

José Régio. Há mais mundos. Círculo de Leitores, 1973., p. 60

« Tanto mais duvidamos quanto mais sabemos, ou julgamos saber. E sobre nós mesmos, homens, se torna ainda maior a nossa perplexidade! Por certo somos mais complicados que as pedras e as plantas, os animais a que negamos razão e até os fenómenos siderais. Quem sabe? talvez nos nem convenha sabermos demais sobre nós mesmos!

 José Régio. Há mais mundos. Círculo de Leitores, 1973., p. 31

«(...), eu não quisera ofender-te sem te ouvir.»

José Régio. Há mais mundos. Círculo de Leitores, 1973., p. 30

sexta-feira, 12 de junho de 2020

''Só depois de reconhecido um autor como personalidade própria, ou uma obra como realidade objectiva, se poderá criticá-lo ou criticá-la, e dentro da sua esfera. Então se achará que a sua órbita não é tão apertada como de princípio nos parecera. Então se pensará que a alma dum criador sempre é mais rica, mais diversa, do que a imagem que, no geral, a consagração pública emoldura, para em sossego a contemplar. ''

JOSÉ RÉGIO 

sexta-feira, 26 de abril de 2019

Álvaro Cunhal treplicou, negando que lhe tivesse escapado o alcance de As Encruzilhadas de Deus: "Eu quero esclarecer que falo neste momento da poesia de José Régio — sobretudo de As Encruzilhadas de Deus — porque ela canta com um realismo impressionante a tortura do desalento, da fuga, da indecisão, canto esse comum a muitos outros poetas e poetazinhos portugueses que não foram fadados para a poesia [...]. Mas nenhum como José Régio conseguiu exprimir com tão grande beleza, vibração e angústia, a situação do homem que se afastou das multidões anónimas, do homem a quem faltam forças para romper o isolamento, do homem a quem a vida chama ainda e que não vê outra maneira de dela se aproximar, fora a expressibilidade do seu eu"

Álvaro Cunhal, "Ainda na encruzilhada", Seara Nova, n° 626,12-8-1939, pp. 151-154.

sábado, 2 de setembro de 2017

Soneto de amor


Não me peças palavras, nem baladas,
Nem expressões, nem alma... Abre-me o seio,
Deixa cair as pálpebras pesadas,
E entre os seios me apertes sem receio.


Na tua boca sob a minha, ao meio,
Nossas línguas se busquem, desvairadas...
E que os meus flancos nus vibrem no enleio
Das tuas pernas ágeis e delgadas.


E em duas bocas uma língua..., — unidos,
Nós trocaremos beijos e gemidos,
Sentindo o nosso sangue misturar-se.


Depois... — abre os teus olhos, minha amada!
Enterra-os bem nos meus; não digas nada...
Deixa a Vida exprimir-se sem disfarce!

José Régio

Cântico Negro


"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...


A minha glória é esta:

Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí!
Só vou por onde


Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...


Se vim ao mundo, foi

Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.


Como, pois, sereis vós

Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,


E vós amais o que é fácil!

Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...


Ide! Tendes estradas,

Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...


Eu tenho a minha Loucura !

Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!

Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.


Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,

Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!


A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,

É um átomo a mais que se animou...


Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!


José Régio

sábado, 19 de março de 2016


«Com meu sôfrego amor inexperiente,
Quis amar e ser amado.
Amei tudo ou toda a gente
Que se encontrou a meu lado...»


José Régio. As Encruzilhadas de Deus. Poesia. Obras completas. Portugália Editora, 1936., p.  77

3


JOGO DE ESPELHOS

«Entro ...seja onde for. Começo a disfarçar,
A fingir que estou bem, muito à vontade.
Mas a verdade é que não sei como hei-de estar,
Nem sei não deixar ver que esta é que é a verdade!»

(...)

José Régio. As Encruzilhadas de Deus. Poesia. Obras completas. Portugália Editora, 1936., p.  73

«Vivo em adeus e em viagem.»


José Régio. As Encruzilhadas de Deus. Poesia. Obras completas. Portugália Editora, 1936., p.  63

«A minha alma dói-me...!, porque tu ma vês,»


José Régio. As Encruzilhadas de Deus. Poesia. Obras completas. Portugália Editora, 1936., p.  51

«A um canto,
Com funda neurastenia,
Um piano faz ão-ão,
Faz ão-ão a toda a gente,
Como um pobre cão doente.»

José Régio. As Encruzilhadas de Deus. Poesia. Obras completas. Portugália Editora, 1936., p.  50

E te queime a boca e a face


«Quero-te! e não são os teus muros

«Que hão-de impedir que te enlace,
«E te queime a boca e a face
«Com meu ósculo de fogo...»


José Régio. As Encruzilhadas de Deus. Poesia. Obras completas. Portugália Editora, 1936., p.  45

''Sorrisos de luto...''

José Régio. As Encruzilhadas de Deus. Poesia. Obras completas. Portugália Editora, 1936., p.  34

«Eis o leito em que me deito,
No buraco do meu quarto,
E em que sofro a dor do parto,
Que não acaba,
De Mim Próprio!»


José Régio. As Encruzilhadas de Deus. Poesia. Obras completas. Portugália Editora, 1936., p.  32

«O cemitério das moscas
Bate-me, às vezes, na testa.»

José Régio. As Encruzilhadas de Deus. Poesia. Obras completas. Portugália Editora, 1936., p.  31
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