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sexta-feira, 10 de junho de 2011

NA MORTE DE CRISTO, CONTRA A NATUREZA DO CORAÇÃO DO HOMEM

      Porque derrama noite o sentimento
por todo o cerco desta chama pura,
e amortecido o sol em sombra escura
dá lágrimas ao fogo e voz ao vento;
       porque da morte o negro encerramento
descobre com tremor a sepultura,
e o monte, que separa da planura
o mar vizinho, divide-se atento,
      de pedra é, homem duro, de diamante
teu coração, pois morte tão severa
não afoga com pranto teu semblante.
      Mas de pedra não é. Sendo-o, qual cera,
de compaixão por ver a Deus amante,
ao rolar entre as pedras se rompera.



Francisco Quevedo. Antologia Poética. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento, Assírio & Alvim, Lisboa, 1987, p.75
«Bebeu a sede nos regatos puros;»




Francisco Quevedo. Antologia Poética. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento, Assírio & Alvim, Lisboa, 1987, p.67
     «Não me calo, por mais que com o dedo,
tocando tua boca ou sobre a fronte
silêncio imponhas ou ameaces medo.
       Não há-de haver um espírito valente?
Há-de sempre sentir-se o que se disse?
Nunca se há-de dizer o que se sente?»


Francisco Quevedo. Antologia Poética. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento, Assírio & Alvim, Lisboa, 1987, p.63

sábado, 4 de junho de 2011

«Sinto-me envergonhado de meus anos
a que pudera dar um melhor uso,
buscando a paz e não seguindo enganos.»


Francisco Quevedo. Antologia Poética. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento, Assírio & Alvim, Lisboa, 1987, p.49
 «Como de entre meus dedos tu resvalas!
Minha idade, como és fugidia!»


Francisco Quevedo. Antologia Poética. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento, Assírio & Alvim, Lisboa, 1987, p.45

Arrependimento e lágrimas devidas ao engano da vida

     Foge sem perceber-se, lento, o dia,
e a hora secreta e recatada
silenciosa chega e, maltratada,
leva consigo a minha louçania.
     A vida nova, que em infância ardia,
a juventude forte e enganada,
no derradeiro inverno sepultada,
jazem em negra sombra e neve fria.
    Não senti resvalar, mudos, os anos;
hoje choro-os passados, bem os vejo
rir-se de minhas lágrimas e danos.
    O meu remorso deva a meu desejo,
pois devem-me a vida os meus enganos,
não creio nem na dor em que latejo.



Francisco Quevedo. Antologia Poética. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento, Assírio & Alvim, Lisboa, 1987, p.33

sábado, 28 de maio de 2011

Significa-se a própria brevidade da vida sem pensar e com padecer, assaltada pela morte

    Foi sonho ontem; será amanhã terra;
pouco antes, nada; pouco depois, fumo;
e destino ambições, até presumo
um só momento o cerco que me encerra.
     Breve combate de importuna guerra,
pr'a defender-me, sou perigo sumo;
quando com minhas armas me consumo,
menos me hospeda o corpo, que me enterra.
     Foi-se o ontem; amanhã é esperado;
hoje passa, e é, e foi com movimento
que me conduz à morte despenhado.
     Enxadas são a hora e o momento;
pagas por minha pena e meu cuidado,
cavam em meu viver meu monumento.



Francisco Quevedo. Antologia Poética. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento, Assírio & Alvim, Lisboa, 1987, p.33
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