Mostrar mensagens com a etiqueta De Profundis Valsa Lenta. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta De Profundis Valsa Lenta. Mostrar todas as mensagens

domingo, 8 de agosto de 2010

«Disse e vivi, Acta est fabula



José Cardoso Pires. De Profundis, Valsa Lenta. Círculo de Leitores. Lisboa, 1998., p.78
PROIBIDA A ENTRADA A MENORES
OU A ADULTOS AO COLO




José Cardoso Pires. De Profundis, Valsa Lenta. Círculo de Leitores. Lisboa, 1998., p.62
«(...) sem sacrificados não há principiante que chegue a bem sucedido.»



José Cardoso Pires. De Profundis, Valsa Lenta. Círculo de Leitores. Lisboa, 1998., p.62
«Inacreditável. Eu, o Outro de mim, em viagem de passos perdidos e a interrogar-me se não estaria a caminhar para a loucura. E o caso é que, desconcertante ou não, a pergunta aconteceu. E para maior surpresa, não a esqueci. Loucura, caminho para a loucura, a questão chegou-me com uma insistência passageira mas no estado em que me encontrava o que não seria para mim a loucura? Como é que eu, impessoal e tão a esmo, me tinha lembrado de tal coisa a propósito dum letreiro? Pensando-a a esta distância, admito que essa perturbação se possa dever a um eco da minha identidade do passado: ao enfrentar aquele letreiro como uma provocação da leitura e da escrita era o ex-autor de livros que estremecia na cegueira em que me tinha mergulhado e que tirava do fundo da sua razão perdida o esboço duma interrogação à loucura. Seria?»



José Cardoso Pires. De Profundis, Valsa Lenta. Círculo de Leitores. Lisboa, 1998., p.57
«Na véspera de não partir nunca...»


Álvaro de Campos
«Ver pessoas (figuras) através dum vidro mudo e perdê-las num acto contínuo. Tudo sem angústia, como quem preenchesse o tempo numa serenidade terminal. Como quem, na desertificação que o invadia, fosse avançando para a morte cerebral num cenário de contornos indiferentes.»


José Cardoso Pires. De Profundis, Valsa Lenta. Círculo de Leitores. Lisboa, 1998., p.33
«Para ele, agora ou ontem tudo era outrora, mundo alheio ou como tal. E desinteressante. O constante e desinteressado desinteresse do homem desabitado de pessoas e de lugares, de tempo e sentimentos.»


José Cardoso Pires. De Profundis, Valsa Lenta. Círculo de Leitores. Lisboa, 1998., p.32
«Ele, o Outro, O outro de mim. Em menos de nada, já a Edite falava ao telefone com os médicos sobre esse alguém impessoal que eu estava a começar a ser.

(...)

Lembro-me de que essa manhã foi invadida por um aguaceiro desalmado, ouvia-se uma chuva grossa e pesada lá fora mas deve ter sido passageira porque quando acabou a Edite ainda estava ao telefone. A partir de então tudo o que sei é que me pus ao espelho da casa de banho a barbear-me com a passividade de quem está a barbear um ausente - e foi ali.
Sim, foi ali. Tanto quanto é possível localizar-se uma fracção mais que secreta da vida, foi naquele lugar e naquele instante que eu, frente a frente com a minha imagem no espelho mas já desligado dela, me transferi para um Outro nome e sem memória e por consequência incapaz da menor relação passado-presente, de imagem-objecto, do eu com alguém ou do real com a visão que o abstracto contém.»



José Cardoso Pires. De Profundis, Valsa Lenta. Círculo de Leitores. Lisboa, 1998., p.30/1
«Quando perdeste o sonho e a certeza tornaste-te desordem e fizeste-te nuvem.»


Simónides de Kéos, Epitáfio nas Termópilas
«A primeira, é que V. simplesmente teve sorte, e não há nada de mal com isso. O nosso inimigo queixava-se de Napoleão pode ele ter generais com sorte, ao que o imperador retorquia que não gostava de generais com sorte, princípio para mim fundamental para a prática da profissão.» (p.17)
«O primeiro toca ao mistério que desde sempre tem intrigado os afasiologistas e que se refere ao estado mental dos afásicos, ou seja, o que pensa e como pensa aquele que não consegue de modo algum comunicar o pensamento. Aliás, esta questão é tão inquietante como a de tentar perceber o que sentem aqueles que se encontram no chamado «estado vegetativo persistente», em cuja intimidade receamos penetrar, esquecendo talvez que as flores também sofrem.» (p.18)
«Curiosamente, V. prende sempre a sua memória à imaginação indissociáveis e indispensáveis à sua criação literária.» (p.19)
«Uma última palavra. Para Keats, o desafio da poesia do futuro era «thinking into the human heart». Os cientistas deste e do próximo século sabem que a tarefa é «thinking into human brain», pois continuamos todos sem saber por que é que o «binómio de Newton é tão belo como a Vénus de Milo». Mas como dizia a personagem do nosso Eça, certas coisas não se sabem e é preferível não se saberem. Não será melhor assim?
Ab imo corde. » (p.22)

João Lobo Antunes

Páscoa de 1997



in José Cardoso Pires. De Profundis, Valsa Lenta. Círculo de Leitores. Lisboa, 1998
Powered By Blogger