domingo, 30 de setembro de 2018

«Quando não tenho nada no coração, não tenho nada.» 

Abbas Kiarostami

France 1963. Travailleurs immigrés portugais travaillant sur un chantier


«Por isto, e só por isto, temos existido »

T.S.ELIOT. A Terra sem Vida. Colecção Poesia. Edições Ática. Lisboa., p. 51

« Ossos secos não fazem mal a ninguém.»

T.S.ELIOT. A Terra sem Vida. Colecção Poesia. Edições Ática. Lisboa., p. 51
(...)

«A altura é agora propícia, como ele pensa,
A refeição acabou, ela está cansada e aborrecida,
Tenta captá-la com carícias,
Que não são repelidas, embora não sejam desejadas.
Excitado e decidido, ataca de repente;
As suas mãos pesquisadoras não encontram defesa;
A vaidade dele não exige retribuição
E toma a indiferença por bom acolhimento.»


T.S.ELIOT. A Terra sem Vida. Colecção Poesia. Edições Ática. Lisboa., p. 39
(...)

«Eu, Terésias, embora cego, palpitando entre duas vidas,
Velho de seios femininos enrugados, posso ver
Na hora violeta, a hora da noite que nos arrasta»

T.S.ELIOT. A Terra sem Vida. Colecção Poesia. Edições Ática. Lisboa., p. 37

O SERMÃO DO FOGO

T.S.ELIOT. A Terra sem Vida. Colecção Poesia. Edições Ática. Lisboa., p. 35


(...)

«Devias ter vergonha, disse eu,  de parecer tão velha.
(E ela só tem trinta e um anos.)
Não é minha a culpa, disse ela, desanimada,
Foram os comprimidos que tomei para o desmancho, disse ela.
(Ela já teve cinco e quase morreu quando nasceu o Jorginho.)»



T.S.ELIOT. A Terra sem Vida. Colecção Poesia. Edições Ática. Lisboa., p. 31
(...)

«Os meus nervos estão mal esta noite. Sim, mal. Fica ao pé de mim.
«Fala comigo. Porque é que nunca falas? Fala.
       «Em que estás a pensar? Em que pensas? Em quê?
«Nunca sei em que estás a pensar. Pensa.»

T.S.ELIOT. A Terra sem Vida. Colecção Poesia. Edições Ática. Lisboa., p. 29
(...)

«Aquele cadáver que plantaste o ano passado no teu jardim
«Já começou a despontar? Dará flor este ano?
«Ou a súbita geada perturbou o seu canteiro?»

T.S.ELIOT. A Terra sem Vida. Colecção Poesia. Edições Ática. Lisboa., p. 25
(...)

«arrastam a carcaça do verde       e dos céus sáfaros
como pétalas podres caem mortos os pássaros
e à febre das areias que deliram ao sol
arremessam as águas primeiras do dilúvio 
as espinhas dos peixes que dos bruscos terraços
das ondas se despenham em luas de petróleo

Chamávamos Europa ao sítio onde parou
o sangue que a estrela de seis pontas buscava
onde a sede do corpo por fim chegasse à alma
Mal eram começadas as letras que a serpente
sabiam encantar ensanguentou-se o livro»

Natália CorreiaPoemas a Rebate. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1975., p. 178

Nina Simone - Black Is The Color Of My True Love's Hair



Black is the color of my true love's hair
His face so soft and wondrous fair
The purest eyes
And the strongest hands
I love the ground on where he stands
I love the ground on where he stands
Black is the color of my true love's hair
Of my true love's hair
Of my true love's hair
Oh I love my lover
And where he goes
Yes, I love the ground on where he goes
And still I hope
That the time will come
When he and I will be as one
When he and I will be as one
So black is the color of my true love's hair
Black is the color of my true love's hair
Black is the color of my true love's hair

Compositores: Nina Simone
(...)

«Que direcção tomar? Com os cérebros ligados
à corrente do inferno o medo é um caminho
de espantosos autómatos que acaba no ocaso
Porque o tempo não gosta dos que andam para a frente
e irado os espera com a espada do poente
Se chegarmos às portas do segundo milénio
como larvas activas de um numérico horror
numa pútrida data esperada pelos corvos
terminada a tarefa das flores asfixiadas 
nas jarras retorcidas dos fins do oxigénio
a cobrir-nos os olhos teremos como prémio
o astro da fuligem que no umbral do ferro
pelo anjo da raiz quadrada está escrito.»


Natália CorreiaPoemas a Rebate. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1975., p. 177
(...)

«Chegará simplesmente como um verão mais perverso
cantam-na as mulheres nuas estampadas nos lençóis
como cancros de fogo nas virilhas dos soldados »


Natália CorreiaPoemas a Rebate. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1975., p. 175

«nós saímos dos ovos e quisemos ser números »

Natália CorreiaPoemas a Rebate. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1975., p. 173

Aretha Franklin - I Never Loved A Man (The Way I Love You)

You're a no good heart breaker
You're a liar and you're a cheat
And I don't know why
I let you do these things to me
My friends keep telling me
That you ain't no good
But oh, they don't know
That I'd leave you if I could

I guess I'm uptight
And I'm stuck like glue
Cause I ain't never
I ain't never, I ain't never, no, no (loved a man)
(The way that I, I love you)

Some time ago I thought
You had run out of fools
But I was so wrong
You got one that you'll never lose
The way you treat me is a shame
How could ya hurt me so bad
Baby, you know that I'm the best thing
That you ever had
Kiss me once again

Don'cha never, never say that we we're through
Cause I ain't never
Never, Never, no, no (loved a man)
(The way that I, I love you)

I can't sleep at night
And I can't eat a bite
I guess I'll never be free
Since you got, your hooks, in me

Whoa, oh, oh
Yeah! Yeah!
I ain't never loved a man
I ain't never loved a man, baby
Ain't never had a man hurt me so bad

No
Well this is what I'm gonna do about it

''orquídeas de fumo''

Natália CorreiaPoemas a Rebate. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1975., p. 168

(...)

«e do fundo da noite que é o sexo à deriva
da bailarina nua vem uma estrela húmida
onde passa a correr uma mulher em chamas
montando um cavalinho que fugiu de uma libra»

Natália CorreiaPoemas a Rebate. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1975., p. 167
A VIRGEM DE MEMLING ATRAI COM UMA MAÇÃ
                        OS SUICIDAS A BRUGES

Que mais pedir à lassidão e ao sonho
que o último tomo de uma geira
neste sonambulismo das coisas
em sua propriedade de cera?

Um cometa de lacre tudo selou
e na liturgia do sossego
inerte e insone a água ficou
num impossível voo negro

Propõem os sinos lêvedas horas
e estátuas jacentes submetidas
e falando uma língua morta
declinam os dias pendões de guildas

mercadoria de reinos mortos
que fundam penados sucursais
Sustendo o pó dois anjos seguram
o céu coroa seca de decimais

Húmida e amarela pinga nos canais
uma luz de sódio lua de gafeira
que as habitantes do esquecimento dá
a sua cor final e verdadeira

E eu peço a estas sombras empalhadas
(embalsamado horror de olhos abertos)
os sete palmos que honestamente vão
do meu coração aos meus desertos

Acaso é uma linha imaginária
a morte que separa este hemisfério
numa cordial agência funerária
de cinzas pó e nada
                                        ou do mistério?


Natália CorreiaPoemas a Rebate. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1975., p. 165/6

(...)

«Do préstito cardíaco da hora populosa
fica um último homem síncope de profecia
que ao clarão de uma árvore de lágrimas eléctricas
lê o último capítulo das gaivotas.»


Natália CorreiaPoemas a Rebate. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1975., p. 164

«metafísica dos homens sós »


Natália CorreiaPoemas a Rebate. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1975., p. 156

''Da fixidez de esperar''


Natália CorreiaPoemas a Rebate. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1975., p. 155

(...)

«Do aguerrido galo a crista se amansa
num lilás luminar que ocupa de alfazema
sestas meridionais no ar boquiaberto
que deixou a passagem de uma canção blasfema»


Natália CorreiaPoemas a Rebate. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1975., p. 152

«do suicídio que se incuba nos corações molhados»


Natália CorreiaPoemas a Rebate. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1975., p. 149

capitosa

calendas

ca.len.das
kɐˈlẽdɐʃ
nome feminino plural
primeiro dia de cada mês, no antigo calendário romano
para as calendas gregas
irónico nunca (os gregos não tinham calendas)

«Não tente ser uma pessoa de sucesso, em vez disso, seja uma pessoa de valor.»

Albert Einstein

sábado, 29 de setembro de 2018

«A vida é toda um processo de demolição. Existem goles que vêm de dentro, que só se sentem quando é demasiado tarde para fazer seja o que for, e é quando nos apercebemos definitivamente de quem em certa medida nunca mais seremos os mesmos.»

F.Scott Fitzgerald
''Actualmente o sentimento de perda é muito mais presente. Hoje conhece-se muito mais pessoas, sítios, realidades e a quantidade de informação nova, que anula ou nos obriga a reformular ideias e até valores, é enorme. A habituação do indivíduo a uma perda constante que gera também uma memória atrofiada; a autonarração da vida é assim desregulada pelo iniciar constante de novos ciclos.''
(...)

« nas portas e nas bocas nas vulvas e nas tumbas
puseram a assinatura da vitória
e com vinha da ira e cães de fila
dos talos da morte cresceu o muro mnemónica»

Natália CorreiaPoemas a Rebate. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1975., p. 141
LES DIABOLIQUES: Simone Signoret et Paul Meurisse dans le film d'Henri-Georges Clouzot (1955).

sílfide

síl.fi.de
ˈsiɫfid(ə)
nome feminino
1.
MITOLOGIA génio feminino que preside ao ar
2.
figurado mulher delicada e graciosa

''suástica crucificação''

Natália CorreiaPoemas a Rebate. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1975., p. 137

domingo, 23 de setembro de 2018

«anjo não é cão de guarda»

Natália CorreiaPoemas a Rebate. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1975., p. 123

« do fundo dos teus olhos a tua dor rodada»


Natália CorreiaPoemas a Rebate. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1975., p. 114

espúrio

es.pú.ri.o
(i)ʃˈpurju
adjetivo
1.
antiquado diz-se de filho de uma relação extraconjugalbastardoilegítimo
2.
que não segue as leisilegítimo
3.
diz-se da obra que não pertence ao autor a quem é atribuída
4.
adulteradofalsificado
5.
que não pertence ao vernáculo
6.
não autênticonão genuíno
7.
regionalismo avarento e de aspecto pouco agradável

hagiologia


«arte de flancos mornos versificando o cio »

Natália CorreiaPoemas a Rebate. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1975., p. 111
«      No topázio mais triste da minha clarividência, apareceu-me o anjo do Ocidente. Tropeçava de sombra em sombra e a espada com que guardava os jardins com buxos de livros da Europa despedaçara-se em números que espavoridos fugiam uns dos outros. Um horizonte de canções blindadas cantava a parábola das cidades brancas cobertas por noites laboriosas de formigas. As estátuas cambaleavam no alto de temerosos pensamentos. As catedrais eram levadas por um vento de elevadores endemoninhados. Mulheres a arder em revistas ilustradas faziam strip-tease para latas de conserva boquiabertas. E a Europa fugia para trás. Fugia parada na louca pulsação do seu movimento estático. E a Europa era a triste viuvinha no meio de uma roda de crianças que eram índios num filme americano.
        Desatei então a correr para o sítio onde se chora. O sítio onde se chora é na penumbra pensativa. No quarto de estalactites da alma onde se fazem poemas. Mas notei que no meu pranto faltava uma lágrima e essa lágrima era Portugal. Percebi finalmente que Portugal era eu a chorar trevos de cinza pela Europa.»


Natália CorreiaPoemas a Rebate. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1975., p. 107
«Não, não participo nessa exposição de rosas com fins caritativos que tem amortalhado alguns poetas no ilustre cadáver do presidente da república. Se nimiamente me deixo viver pelo tempo que finge crianças rotas e pedintes é porque a todos espero no domingo de prata que coroará a semana de horrorosos trabalhos que a teia do tirano tece com a baba dos oprimidos. É por pura impaciência que me inscrevo na lista de todos os fuzilados por amor.


Natália CorreiaPoemas a Rebate. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1975., p. 102
«Os oprimidos são os maiores capitalistas do mundo porque capitalizam a nossa vocação para morrer pelas ideias que vão deixar tudo na mesma.»

Natália CorreiaPoemas a Rebate. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1975., p. 101

«na intelegível voz de uma alma devastada.»


José Agostinho Baptista. Jeremias o louco. Centelha/Poesia. Coimbra, 1978., pp. 53

(...)

«cumprindo enfim o ciclo das breves orgias cristãs.

foi então que a descobriram,
o rosto contraído sob o azul de um céu litoral
que a noite escurecia,

agora que os vermes a procuravam,                 sedentos de
um corpo triste;»


José Agostinho Baptista. Jeremias o louco. Centelha/Poesia. Coimbra, 1978., pp. 50

«indiferentes ao mundo,                          aos sonhos do mundo,»

José Agostinho Baptista. Jeremias o louco. Centelha/Poesia. Coimbra, 1978., pp. 48

(...)

«marinheiros, sábios, homens do mar que o mar
não devolverá.

quando ele chegou                               nada disse.

havia uma história de muitas milhas e tanta sede
nos lábios gretados.»

José Agostinho Baptista. Jeremias o louco. Centelha/Poesia. Coimbra, 1978., pp. 47

(...)

«consultando as profanas escrituras,                  testamentos e 
exercícios sobre a loucura,
                                                       noções de orgia e massacre,
pergaminhos que tempo algum destruiria;»


José Agostinho Baptista. Jeremias o louco. Centelha/Poesia. Coimbra, 1978., pp. 39

«tudo o que ao mar se deu e ao mar não regressará...»


José Agostinho Baptista. Jeremias o louco. Centelha/Poesia. Coimbra, 1978., pp. 36
(...)

«                          o coração esmagado por deus,
seduzido pelos frios rostos do passado, pelas
visões incontroladas de poentes vermelhos, após
as dunas.»


José Agostinho Baptista. Jeremias o louco. Centelha/Poesia. Coimbra, 1978., p. 27

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